1982-2002

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Que futuro nos espera?

Admitida a hipótese de vitória de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais, torna-se lícito especular como seria o início do seu segundo mandato. O presidente iniciou seu primeiro mandato recebendo uma boa herança do governo Itamar Franco. A economia estava em crescimento, a moeda estabilizada, as contas públicas controladas, investimentos nas áreas sociais e as contas externas estavam relativamente equilibradas.

No final do mandato, pode-se dizer que Fernando Henrique é um homem imprevidente. Comportou-se como aquele último servo da parábola bíblica dos talentos. Para quem não se lembra, ao partir de sua casa um senhor distribuiu cinco talentos para o primeiro servo, dois para o segundo e um para o último. Tanto o primeiro quanto o segundo servos investiram o que receberam multiplicando os seus recursos. Já o último preferiu enterrar o seu talento para devolvê-lo intacto ao senhor. Aliás, Fernando Henrique agiu de forma ainda mais desastrada do que o último servo: dilapidou a herança que recebeu no cassino do capital especulativo global. Depois da posse do atual presidente, o crescimento econômico tem taxas decrescentes ano a ano, a dívida pública atingiu o patamar de mais de 7% do PIB, as contas externas apresentam um déficit alarmante, o desemprego é talvez o maior da história, a moeda é alvo de ataques especulativos e os investimentos nas áreas sociais sofreram profundos cortes.

As projeções que os analistas fazem para o próximo ano são sombrias. A tendência da economia é de recessão. Com a recessão, o quadro negativo descrito acima tenderá a se agravar. Um segundo mandato de Fernando Henrique não só aumentará o quadro de miséria, de desemprego e de desagregação, mas terá de haver-se com o aumento da tensão social e política. Claro que os governistas acham que a oposição pinta o quadro do futuro próximo com as cores do pessimismo. Afinal de contas, os burocratas do governo venderam otimismo e certezas inabaláveis durante os últimos quatro anos. Os marketeiros da reeleição mostraram um país fantasia, que só existe na cabeça de quem não se importa com as condições de vida da sociedade.

No jogo político geral existem basicamente duas atitudes: os governantes tendem a vender um otimismo exagerado e a oposição aposta nas avaliações pessimistas. Acredito que a postura política mais conveniente é a do realismo. É verdade que o sucesso dos líderes políticos depende da estimulação positiva que devem fomentar junto à sociedade. Mas esse otimismo não pode ser ilusório, mentiroso. Já o pessimismo político gera não só um negativismo social, mas tende a projetar seus reflexos sobre os próprio agentes políticos que o alimentam. A atitude realista recomenda que se aposte positivamente na superação das crises e dos problemas, sem, contudo, escondê-los. O líder político autêntico deve ser capaz de expor as dificuldades e os desafios e de apresentar saídas e soluções para superá-los. A consequência imediata do otimismo político injustificável é a desilusão. É este o sentimento mais provável que a população manifestará em relação a um segundo governo de Fernando Henrique.

Analistas políticos já prevêem uma grande ressaca da sociedade após as eleições. Afinal de contas, boa parte dos eleitores de Fernando Henrique decidiram sufragá-lo a contragosto. Sabem que o governo é o principal responsável pela crise e temem a recessão e o desemprego. Optam pela reeleição pressionados pela intimidação disseminada pelo governo e por boa parte da mídia desde o início da campanha. Os governistas apresentaram-se como únicos salvadores da pátria sugerindo que uma possível vitória da oposição instalaria o caos no país. Foi criada assim uma barragem de recusa à alternativa ofertada pela oposição. Mas boa parte da sociedade, aos poucos, foi se dando conta que foi o próprio governo quem levou o país na beira do precipício. Muitos perceberam também que a oposição apresentou propostas sensatas e exequíveis para tirar o país da crise. A oposição sai desse processo eleitoral com um capital político significativo.

Mesmo assim, o temor da mudança impôs-se levando a maior parte do eleitorado a fazer uma opção conservadora. Definitivamente, esta não será uma eleição caracterizada pela esperança. Pelo contrário, será a eleição do medo. Todos pressentem que medidas econômicas duras virão precarizando ainda mais as condições de vida de todos. A dimensão real e a gravidade da crise foram escondidas para evitar seus efeitos eleitorais. Resta saber agora se a sociedade terá forças para reagir evitando que os efeitos da crise recaiam mais uma vez sobre o trabalho e a produção e exigindo que o governo assuma as suas responsabilidades.

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