1982-2002

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A dupla face política do Brasil

Não é nenhum exagero concluir que os resultados das eleições de primeiro e segundo turno constituíram uma dupla face política para o Brasil. Uma das faces, a mais visível, tem ainda uma coloração neoliberal, conservadora. É a face representada pelo governo Fernando Henrique e por parte significativa de sua base, tanto no Congresso quanto em governos estaduais. Mas no outro lado, surge uma face jovem, vigorosa e renovadora. São os governadores oposicionistas somados ao crescente bloco de oposição no Congresso. Parte da base governista que manifesta uma forte vontade de se inclinar para a centro-esquerda pode colar-se à face renovadora. O dado mais significativo desta nova face é que ela foi pintada pelo eleitorado dos grandes centros urbanos, especialmente das regiões Centro e Sul do país. Isto significa que a parte mais dinâmica da sociedade e o eleitorado mais informado sinalizam que querem mudanças no cenário político, econômico e social.

As eleições mostraram, sobretudo, que o Brasil está em transição. Nenhum líder político e nenhum partido em particular saiu plenamente vencedor. Fernando Henrique teve uma vitória significativa no primeiro turno. Mas, no segundo, o eleitorado decidiu podá-la fortalecendo a oposição. No Congresso, o bloco governista encolheu e o bloco de oposição cresceu. PFL, PSDB e PT cresceram individualmente. O PPB foi o partido que mais perdeu deputados. Nos governos estaduais, a oposição passa a governar sete estados. Antes governava três. Isto significa uma redução da base governista. Acrescente-se que governadores do bloco governista como Mário Covas tendem a adotar uma postura mais autônoma em relação ao Planalto e mais afinada com o bloco da esquerda. Em termos de lideranças, Paulo Maluf é o principal derrotados das eleições estaduais.

Os resultados eleitorais produzem assim conseqüências novas para o segundo mandato de Fernando Henrique. O presidente terá que deixar de lado a arrogância e o discurso recorrente de desqualificação da oposição. Terá que negociar mais, tanto com sua base, mais autônoma, quanto com a oposição. A oposição, mais forte, por sua vez, tende a ser mais contundente. Mas, paradoxalmente, também terá que negociar mais com o governo. Afinal de contas, os governos oposicionistas precisam encontrar saídas e soluções para estados literalmente quebrados. O embate entre governo e oposição não terá apenas como teatro de operações o Congresso e como motivo as reformas. Abre-se uma nova frente de disputa e negociação em torno da questão federativa envolvendo diretamente os governadores.

Do ponto de vista dos posicionamentos quanto ao futuro e das perspectivas de poder, o PFL está fazendo o primeiro movimento com a sinalização da criação de um bloco parlamentar e até mesmo de fusões partidárias buscando agregar uma força de cerca de 200 parlamentares. Esta movimentação obriga as oposições a discutirem que tipo de relacionamento pretendem manter. As estratégias de poder, além das definições programáticas, passam necessariamente pela reforma política e pela agregação de frentes partidárias ou por fusões partidárias. O centro também terá que se definir. O PSDB terá que sair da ambigüidade centrada na prática conservadora e no discurso social-democrata. O PMDB, que hoje é uma federação de partidos estaduais e não tem um líder nacional aglutinador, tende a cindir-se. Parte poderá ser arrastada pelo bloco conservador e parte tenderá a agregar-se ao PSDB. Apesar dos reordenamentos partidários, o governo Fernando Henrique deverá ter uma razoável sustentação política por dois anos. A partir das eleições municipais do ano 2000 a base governista deverá divorciar-se, bipartindo-se num bloco de direita e outro de cento em busca de alternativas próprias para a sucessão de 2002.

O futuro da esquerda depende da solução de duas equações. A primeira diz respeito à manutenção de sua unidade. Como já enfatizei acima, o Brasil ingressará numa nova fase política que será marcada pelas agregações partidárias voluntárias e por uma reforma política que poderá a restringir o pluripartidarismo desordenado. Sem alguma forma de unidade, a esquerda não será competitiva. A segunda equação refere-se ao programa da esquerda. A unidade das esquerdas não pode ter apenas como base a oposição ao governo. O programa, de certa forma, é o principal pressuposto da unidade. As eleições deixaram claro que o eleitorado só sufragará majoritariamente a esquerda se ela apresentar um programa consistente e exeqüível.

A esquerda não pode fiar-se apenas no seu crescimento eleitoral. Se não construir uma alternativa programática, poderá chegar nas eleições de 2002 com as mesmas precariedades com que enfrentou as eleições de 1994 e 1998.

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