1982-2002

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Um projeto político que vai além da esquerda

A tarefa do PT na cidade de São Paulo, de enfrentar a disputa eleitoral de 2000, deve vir aliada à compreensão da complexidade que são as disputas políticas no mundo de hoje. Se a esquerda não entender que não dá mais para fazer campanha como fizemos em outros anos, pela complexidade da disputa política na soicedade, no plano de valores, no plano do programa, no plano da simbologia e no plano do imaginário popular, não vamos construir uma hegemonia política, uma hegemonia nos valores, uma hegemonia que dê à vitória eleitoral uma vitória também política.

Em 1988, quando ganhamos a eleição em São Paulo, ganhamos eleitoralmente, mas não politicamente. Não conseguimos construir um projeto hegemônico de disputa na sociedade, nas esferas públicas do estado e no modelo de relações desta cidade complexa. A conjuntura indica que o Partido dos Trabalhadores é hoje a principal força de esquerda, mas não a única que pode dirigir o processo de disputa pelo poder político, passando por 2000 e 2002, com chances de vitória. Portanto, esse projeto político deve ser liderado pelo PT, e ele é mais amplo que a esquerda.

O centro se aliou com a direita e essa aliança está se saturando. Abre-se um espaço na sociedade brasileira, ou para uma alternativa de direita pura, clássica, ou para uma alternativa de esquerda, onde o PT deve se colocar à frente, e São Paulo é um ponto central nessa disputa. Se o PT tiver um bom desempenho nas capitais e nas principais cidades em 2000, estará trabalhando 30% para ser poder em 2002, tanto no âmbito estadual, como no âmbito federal. No Brasil quem deve liderar o processo de transformação é a esquerda . Mas a esquerda sozinha será colocada diante da impotência. A esquerda tem que liderar o movimento social, econômico e político, que vai além do seu espectro, vai além da esquerda. Vai precisar negociar com o empresariado. É possível a negociação com empresários num jogo correto, sério, democrático e ético.

Temos que estabelecer alianças políticas e econômicas, buscando alianças com o objetivo de neutralizar adversários e isolar aquele que nós vamos combater centralmente. Se não fizermos isso, vamos morrer com o nosso discurso da pureza, mas com a ineficácia, porque não vamos governar bem. Precisamos de um projeto mais amplo do que o PT, para viabilizar uma alternativa de centro esquerda aqui em são Paulo. É elemento básico para esse projeto político, entender que o ato de governar, o ato de ter o poder nas mãos, em uma cidade como São Paulo, é um ato de fazer escolhas, de fazer opções, de tomar decisões em relação à determinadas questões cruciais. Não podemos cair no pragmatismo da acomodação, nem na idéia messiânica de que vamos fazer a trincheira da revolução.

Um projeto transformador para uma cidade como São Paulo, passa, primeiro, por uma radicalização da democracia na estrutra do poder, na relação com o poder institucional da Câmara Municipal. Em segundo lugar, por uma democratização administrativa. São Paulo é inviável como modelo administrativo se mantiver essa estrutura atual, com o prefeito, as secretarias e as administrações regionais em um amontoado de problemas e distante das regiões, das particularidades.

É necessário um outro papel para as administrações regionais, que sejam mais ligadas às sub prefeituras. Temos que discutir como fazer o processo de escolha e de indicação, que compreenda um eixo na democratização da máquina administrativa, na relação com a Câmara Municipal. Não podemos disputar a prefeitura sem ter um projeto para o Legislativo, para não ficar nem aquela relação de querer que o Legislativo cumpra o que o Executivo quer, nem achar que o Legislativo tem que ser atropelado pela rebelião das massas. E quando as massas não fazem rebelião, o Legislativo segura a administração, como aconteceu com a última tentativa de reforma tributária da gestão Luíza Erundina. Temos que discutir o que é o Legislativo, porque vamos precisar de uma grande bancada, e de uma relação democrática com a sociedade.

O Orçamento Participativo é um mecanismo para criar a cidadania ativa, não a cidadania tutelada por uma visão paternalista e para radicalizar a idéia do referendo, do plebiscito, da consulta popular. O projeto mais revolucionário que temos para enfrentar a exclusão e a mendicância, é o Projeto de Renda Mínima. O partido tem que fazer mais campanha em torno desse projeto. Só através de uma concepção como essa poderemos realizar, numa cidade como São Paulo, uma coisa que tem sido muito difícil, que é disputar politicamente a população pobre e abandonada da cidade. Ou temos poder político na mão, com políticas públicas para disputar a população que não está no sindicato, que não está nos movimentos comunitários, organizados, ou não disputamos. Porque essa população, enquanto cidadania, não tem referências.

Uma parte do programa estratégico é disputar essa população pobre com políticas públicas, sem cair no paternalismo nem no administrativismo. Outra parte, é uma relação ética e pública entre a esfera estatal e a esfera privada. O malufismo, deformou, promiscuiu, misturou o que é estado e o que é iniciativa privada, com o PAS, com as concessões nos transportes, etc. Aqui em São Paulo, não é fácil saber o que é privado e o que é público. É preciso um projeto de como estabelecer uma relação ética e democrática com os agentes privados na área de serviços, para revolucionar, para criar uma relação correta entre a esfera ética e a privada no tratamento da coisa pública.

O nosso corte essencial em relação ao neoliberalismo, é a concepção de universalização de direitos básicos. Podemos errar e negociar vários itens de um governo do PT, mas na hora de universalizar direitos básicos, temos que radicalizar e apresentar um projeto generoso e abrangente. Abrir um debate na campanha eleitoral do que é um projeto de garantia e decência, numa cidade em que parte da população está no nível da negação de qualquer decência social.

São Paulo não tem mais a vocação econômica de industrialização que tinha no passado. A cidade tem outra vocação na área de serviços, na prestação de serviços, no tipo de diversificação das atividades econômicas específicas de cada região. São Paulo tem que ser concebida como uma espécie de Estado, sem misturar a complexidade da zona Sul com a zona Leste, da zona Norte com a Noroeste, elas têm particularidades. Precisamos de um modelo que potencialize as vocações regionais e, precisamos também, discutir isso globalmente com a cidade, tanto com a iniciativa privada como com os movimentos democráticos.

Não concordo com a afirmação de governar do ponto de vista socialista. Vamos governar uma cidade do ponto de vista de valores, da solidariedade social social no universalismo. O prefeito compõe um projeto para o partido, ele tem que discutir com o partido as linhas gerais, porque quando o prefeito pisar na bola, é ele quem vai para o crivo da opinião pública. Quem senta na cadeira do prefeito, de presidente da República ou de governador, divide o ônus e o bônus, no bom e no mal sentido. Então, o prefeito não pode virar as costas para o partido, tem que estabelecer um caminho de mão dupla, discutir as linhas básicas do governo, prestar contas ao partido, mas não pode ser uma espécie de correia de transmissão do partido.

Ou construímos uma sociedade em que a felicidade seja completa ou então não é esquerda. É nisso que se dá o corte radical. Não é a visão de Estado apenas, não é a visão de sindicato, não é a visão desse ou daquele setor, é a visão da sociedade que as pessoas aspiram, de felicidade material e em todos os planos. Acho que esquerda é aquela força que busca transformar as idéias em força material, em movimentos amplos para mudar a sociedade humana.

Por último, acho que nosso partido tem que fazer uma grande reforma na maneira de fazer política, para se colocar frente à altura da tarefa que será administrar são Paulo. Nesse sentido, o PT precisa passar por uma reforma nos seus diretórios, na relação dos diretórios com a comunidade e com cada região. O partido tem que passar por uma reviravolta geral para se colocar à altura de um projeto de esquerda moderno, contemporâneo, justo e que recupere, na campanha, a utopia e os sonhos. Acho que podemos fazer isso tranqüilamente.

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