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Os jornais têm dado atenção nos últimos dias a uma nova crise no PT, cujo epicentro se localiza no Espírito Santo por conta da divulgação de informações deturpadas de uma reunião entre membros da direção nacional do Partido, o governador Vitor Buaiz e membros da equipe de governo e alguns deputados do estado. A crise, porém, se estende para outros pontos do país. No estado de São Paulo, a derrota eleitoral em várias cidades vem provocando fortes desentendimentos. O fato concreto é que o que aconteceu no Espírito Santo representa um sintoma de algo generalizado no partido. O que aconteceu lá é mais grave porque quebra uma relação de confiança entre membros do partido e inaugura uma prática que não pode ser tolerada sob nenhuma hipótese.
As várias crises que vêm se sucedendo apresentam sinais de que as disputas internas estão ultrapassando os limites da convivência democrática, da diversidade de idéias e do pluralismo respeitoso, bases de uma salutar prática política. As disputas expressam um sectarismo despolitizado onde a mera disputa por espaço e por projeção de grupos ou de pessoas não está associada a nenhum conteúdo propositivo. O PT, de fato, vive uma crise, mas não é esta que está sendo alimentada pelo sectarismo destruidor. A crise do PT é de projetos, de alternativas, de paradigmas. O PT precisa definir um novo contrato ético e programático interno e para com a sociedade em torno do qual deve se dar o debate e a definição dos parâmetros de convivência e da praxis política.
Existem três pontos básicos, que sem uma definição mínima acerca dos quais, o partido não tem condição de prosperar na luta social e de realizar o potencial demonstrado nas últimas eleições. Sepultado o velho socialismo autoritário, o PT precisa definir um novo ideário e redefinir-se enquanto um partido de esquerda democrático e contemporâneo. Em segundo lugar, em face das mudanças que o mundo experimenta, o PT precisa definir um visão programática acerca do Estado e das políticas sociais. Sem isto e mesmo considerando-se os inestimáveis avanços que o partido imprimiu em administrações municipais, toda vez que petistas assumirem governos terão que operar sob o tacão do empirismo por falta de referenciais programáticos. Em terceiro lugar, o PT precisa definir um projeto estratégico para o país que seja capaz de sinalizar respostas mínimas para o desenvolvimento e a estabilidade econômica, para a inserção do país no contexto da globalização, para o impacto das novas tecnologias, para o desemprego etc. Prova de que a crise em curso é sectária e despolitizada está no fato de que não há um debate que vise responder estas questões cruciais.
O processo internista e sectário se torna tanto mais pernicioso quando altas exigências programáticas e responsabilidades públicas são cobradas pelos desafios postos no Brasil e no mundo. A incapacidade de darmos respostas parece que está a indicar que os canais de produção de políticas e de consensos do partido estão esgotados. Talvez seja oportuno convocar um novo Congresso ou criar outros fóruns para que o debate político que verdadeiramente interessa possa se processar. Desde o I Congresso do partido temos insistido na necessidade de um novo perfil político e programático e de uma nova estratégia para o PT. Procuramos marcar nossa posição no plebiscito sobre sistema de governo defendendo o Parlamentarismo, na revisão constitucional, na campanha de Lula em 94, na definição de uma plataforma de reforma constitucional etc. Este debate, infelizmente, se desenvolveu de forma insuficiente e o partido não conseguiu superar seus impasses. As eleições municipais deste ano revelaram outro tipo de problema para o PT: evitar o isolamento e não permitir que a disputa política no país se restrinja entre o centro e a direita.
Se o PT não enfrentar os seus dilemas com novos procedimentos e com o respeito democrático entre grupos e indivíduos pode chegar a um ponto onde se coloque o problema da unidade ou da divisão do partido. O desafio consiste em como buscar o equacionamento desse impasse. A rigor, existem dois caminhos: ou se segue pela via inconsequente e irresponsável das lutas fraticidas ou se criam canais adequados para que o debate de idéias e projetos possa fluir. Os simpatizantes, os filiados e as lideranças estão chamados pela realidade do PT a buscar uma saída renovadora para um partido que contribuiu enormemente para a modernização da vida política brasileira.