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As eleições municipais deste ano estão configurando a formação de três campos políticos. Um de esquerda, que tem no PT o representante mais visível; um de centro, que se articula em torno do PSDB, PMDB e boa parte do PFL; e outro de direita, que tem como epicentro o malufismo e o PPB. Com o multipartidarismo desordenado que marca nosso sistema de partidos, a configuração produzida pela disputa eleitoral pode ser uma matriz para a reforma do sistema partidário.
Mas, apesar da definição desses três campos políticos, simbolicamente, a disputa está polarizada entre duas visões de políticas municipais: o petismo e o malufismo. O centro, a rigor, não tem um modelo de gestão municipal definido. Sua identidade está na política nacional expressa no programa de governo de Fernando Henrique Cardoso. Simbolicamente, o petismo e o malufismo têm como pontos de referência da polarização as gestões nas prefeituras de Porto Alegre e de São Paulo, respectivamente. A disputa na capital paulista entre Luiza Erundina e Celso Pitta põe frente a frente esses dois modelos de gestão municipal contrapostos.
Petismo e malufismo põem em choque duas visões sobre gestão administrativa, prioridades públicas, políticas sociais e relação do poder público com a sociedade. Antes de mais nada é preciso registrar que o discurso do PT, centrado no social, que vem se afirmando desde 1988, em termos políticos, saiu vitorioso. Tanto a direita como o centro viram-se obrigados a assumir um discurso abordando a temática social agendada pelo PT. O presidente Fernando Henrique, na sua posse, prometeu fazer da questão social a prioridade número um. As dificuldades eleitorais do PSDB se explicam, em parte, pelo fato de que o governo federal não tomou nenhuma iniciativa de vulto em termos de políticas públicas.
O malufismo vem desenvolvendo um esforço para renovar sua imagem desde as eleições municipais de 1992. A gestão de Paulo Maluf pretende ser a vitrine de uma direita renovada, que tem no social um aspecto importante de seu programa. Com base em algumas iniciativas como os projetos Cingapura e PAS, combinados com um poderoso marketing e enormes gastos em publicidade, a gestão de Maluf procura vender a imagem de que governa para os pobres. Somente nas últimas semanas a população de São Paulo tem a oportunidade de tomar conhecimento, através da imprensa, como esse "malufismo social" acoberta e abriga o velho malufismo voltado para governar em prol de minorias privilegiadas. Outro traço do velho malufismo que veio à tona diz respeito à prática de endividar o poder público sem critérios e de forma irresponsável, comprometendo as gestões e os investimentos futuros.
Basta lembrar aqui algumas reportagens feitas pelos jornais: desvio de verbas da área social para a construção de túneis e avenidas; construção de obras viárias em locais que favorecem as minorias privilegiadas; quantidade pequena e altos custos na viabilização dos apartamentos do Cingapura; precariedade do PAS e tendência de desmantelamento da saúde pública municipal, privilegiamento das empreiteiras que financiaram a campanha do prefeito em 92, superfaturamento de obras etc. Arquitetos, especialistas em saúde pública e em transporte têm mostrado que o programa social de Maluf e Pitta tem muito de aparência e pouco de efetividade. Esse programa social se orienta para uma clara privatização das políticas públicas sob a ótica da promoção do lucro da iniciativa privada.
O programa social do PT, ao contrário, ganhou projeção nacional e internacional como atestam as escolhas de várias iniciativas de prefeituras petistas para representar o Brasil em fóruns mundiais. Baseado na inversão de prioridades — colocando de forma efetiva e eficiente em primeiro plano as políticas de saúde, educação, habitação popular, saneamento, transporte público etc, — o programa social do PT conseguiu aliar investimentos públicos com excelentes retornos com a participação da iniciativa privada na prestação de serviços e bens públicos. A experiência administrativa que o PT vem desenvolvendo mostra que é possível evitar o estatismo irresponsável e o privatismo, que abandona as populações carentes e os cidadãos à sua própria sorte.
Eficaz e modernizante, a experiência petista de gestão pública tem outra marca que está destinada a fazer escola em âmbito nacional: a participação democrática da sociedade na gestão da coisa pública, na definição de prioridades e na fiscalização do poder público. Com a revalorização do poder local, que aliás é inerente ao processo de globalização, a democratização da administração pública é uma tendência marcante e irrenunciável dos novos tempos. Nisso também o PT se diferencia radicalmente do malufismo, que acentua práticas autoritárias e verticalizadas de gestão.