1982-2002

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Ford e o desemprego

A concessão de incentivos, subsídios e empréstimos com juros subsidiados para que a Ford se instale na Bahia é um processo marcado por um jogo político manipulatório, por concessões de privilégios a uma multinacional e por crises políticas e trabalhistas que polarizam as atencões da sociedade e condenam o governo e a ambição da própria empresa. Como se sabe, o episódio começou com a recusa do governo do Rio Grande do Sul de conceder benefícios escandalosos para que a Ford se instalasse naquele estado. O governo gaúcho ofereceu uma contra proposta absolutamente razoável. Mas por intromissão e pressões do governo federal, atendendo interesses do PFL da Bahia, a empresa desistiu de se instalar no sul.

O segundo ato da manobra consistiu na aprovação pelo Congresso da lei que garantia R$ 700 milhões anuais de incentivos. Essa medida foi patrocinada pelo presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães, recebeu o aval dos líderes do governo e em nenhum momento Fernando Henrique se opôs à sua aprovação. Nos debates em torno da aprovação da MP, a oposição chamou a atenção sobre a violência dos incentivos, suas implicações desastrosas para o pacto federativo e para a possibilidade de seu questionamento pelo Mercosul. Nada foi levado em conta. O Congresso Nacional curvou-se a interesses políticos locais. O presidente teve que vetar uma lei à qual havia dado sinal verde. E o governador Mário Covas, companheiro de partido de Fernando Henrique, teve que protestar contra os prejuízos causados a São Paulo.

Com os privilégios garantidos, a Ford anunciou que desativaria a fábrica do Bairro do Ipiranga, na Capital paulista, provocando a greve dos trabalhadores. Ninguém é contra que a Ford se instale na Bahia. O que setores políticos, sindicais, empresariais e boa parcela da opinião pública questionam são os privilégios que estão sendo concedidos à montadora, a segunda maior do mundo com um faturamento anual de US$ 150 bilhões. A abertura da fábrica na Bahia não pode implicar o fechamento da fábrica de São Paulo, com o consequente desemprego. Ou seja, equivale dizer que, ao financiar a Ford na Bahia, o goveno estaria promovendo o desemprego em São Paulo. Por isso, é justa reivindicação dos trabalhadores da Ford, da Força Sindical e da CUT que exigem uma cláusula social para a concessão de benefícios e incentivos. Isto quer dizer que as empresas que recebem benefícios devem se comprometer a dar garantias sociais e de emprego para os trabalhadores de unidades dessas já instaladas.

É preciso levar em conta ainda que o setor automotivo é, hoje, um dos que menos gera empregos. A Ford da Bahia terá um investimento de R$ 3,8 bilhões para gerar 1.500 empregos diretos. Um investimento dessa monta em pequenas e médias empresas, em setores de serviços, seria capaz de gerar milhares de empregos. O setor de produção de cacau na Bahia, por exemplo, há cinco anos, vem solicitando empréstimos para poder desenvolver-se. Calcula-se que com a ajuda de R$ 300 milhões poderiam ser criados 200 mil empregos na exploração do cacau.

A confusão criada em torno da Ford mostra que é preciso definir critérios para conceder benefícios e incentivos. Critérios vinculados a políticas nacionais e regionais de industrialização e desenvolvimento. Por um lado, é preciso acabar com a guerra fiscal entre os estados. O desenvolvimento de um estado não pode provocar a saída de empresas e emprego em outros. É necessário aprovar mecanismos legais que impeçam essa ordem.

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