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PT x Ruralistas
Política e agricultura são coisas distintas. Não podemos misturar os sinais porque, saindo de premissas erradas, só poderemos chegar a conclusões erradas. Tenho as minhas convicções ideológicas, que são as mesmas, e com elas continuarei. Fui relator na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados de um projeto de lei que estabelecia uma maneira de tirar a agricultura da situação calamitosa em que se encontra. Esse projeto não previa anistia nem perdão de dívida. Tivemos a oportunidade de mostrar ao País que criminoso é não o produtor rural, mas o Banco do Brasil, que lhe impõe dívidas inexistentes. Com isso, incorporaríamos 1,2 milhão de produtores rurais que, por estarem excluídos do crédito rural, não têm como continuar suas atividades. O PT, o PDT e outros partidos de esquerda apresentaram emendas a esse projeto que foram absorvidas pelo substitutivo que eu apresentei, criando-se um fato inédito na Comissão de Agricultura, que foi a aprovação unânime de um substitutivo, Portanto, existe um ponto de concórdia em relação à visão que nós e esses partidos temos em relação ao problema agrícola Nesse aspecto, reconheço que o PT evoluiu. Eles quebraram alguns dogmas e passaram a ser mais pragmáticos. Começaram a enxergar certas situações que são verdadeiras, claras, evidentes, Não se pode fazer um assentamento sem perspectiva de renda. Teremos, então, assentamentos eternamente mantidos pelo Incra? Não, porque haverá um dia em que essas pessoas precisarão caminhar com as suas próprias pernas. E; se não forem adotados os instrumentos de política agrícola que a Nação reclama, essas pessoas estarão falidas. Em relaçao às questões partidárias e ideológicas, estamos em campos opostos.
Reforma agrária
Reforma agrária é apêndice de política agrícola. Como sempre defendi, não se tem um assentamento que sobreviva se nós não tivermos uma política agrícola. Isso hoje está claro. Por que o PT evoluiu a ponta de estar hoje lutando por um projeto que resolve o problema do endividamento rural? Porque milhares de produtores que foram assentados viram que não teriam como sobreviver apenas com o seu quinhão de terra. O problema é que as pessoas rotulam, como se um fosse contra e outro a favor da reforma agrária. Não. Vamos deixar a ideologia de lado e vamos deixar de usar o cidadão que não tem e quer ter o seu quinhão de terra como massa de manobra partidária. Não há necessidade de se criar um quadro de inquietação e de revolução no campo. Reforma agrária deve ser feita garantindo àquele que recebe a terra condições para ter renda, tecnologia e acesso ao mercado, como eles próprios estão percebendo hoje. E não há outro jeito de fazer reforma agrária. Do contrário, estaremos apenas transferindo a favela da cidade para o campo.
MST
O MST tem uma atuação muito mais partidária e ideológica do que uma prática que realmente seja capaz de resolver o problema da reforma agrária. Se eles, desprovidos de tanto sentimento de revolta e de ódio, quisessem, poderíamos encontrar juntos soluções para tornar produtivos os vocacionados para o trato com a terra. Falo em vocacionados porque "sem-terra" é uma generalização. Não são todos os brasileiros sem propriedades rurais que querem ou têm competência para trabalhar com a terra e produzir riquezas.
Equipe econômica
Não sei se os integrantes da equipe econômica são mumificados ou robotizados. Sei que eles falam apenas o que o FMI manda.
FHC
As últimas ações do presidente da República têm sido uma decepção atrás da outra, principalmente no que diz respeito ao setor produtivo primário. Alegam alguns que não foi de iniciativa própria dele, que ele foi orientado pelos marqueteiros. Foi realmente desastroso esse gesto de agressão ao setor produtivo primário, que sempre foi o grande aliado do governo na luta para debelar o processo inflacionário. Eles todos enchiam a boca para falar da âncora verde. Aí, o produtor, um cidadão simples, vem a Brasília de forma pacífica, para propor uma agenda positiva, e é chamado de caloteiro e de devedor contumaz, Isso mostra a total perda de visão do governo e principalmente do presidente em relação aos problemas do campo e da agricultura brasileira.
Impeachment
Como deixou evidente o movimento reivindicatório dos agricultores, não endossamos nenhum movimento político para deposição ou pelo impeachment do presidente. Mas não vejo nada demais em se investigar o processo de privatização da Telebrás. Todos nós temos o direito de levantar se houve irregularidades. Não podem pairar dúvidas sobre o trato da coisa pública.
Sucessão presidencial
Faço parte do PFL, que é hoje o maior partido do País, e certamente terá candidato próprio, a ser escolhido no momento adequado.
Reforma política
É fundamental. O Senado já aprovou a impossibilidade de coligações em nível proporcional, matéria que virá para a Câmara e que esperamos que faça parte do elenco de modificações da legislação partidária já para as eleições do ano 2000.
Combate à miséria
Vejo o apoio à agricultura como o ponto mais importante para o discurso do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, em favor do combate à miséria, Aí sim, nós passamos do discurso para a prática. Por sua capacidade de gerar emprego e renda, a agricultura permite que se responda muito rapidamente, e de forma clara, a qualquer investimento que você faz nela. Não se pode combater a miséria e o desemprego sem apoiar o setor produtivo primário, que tem capacidade de absorver principalmente a mão-de-obra menos qualificada.
