1982-2002

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O radicalismo e a moderação no PT

No momento de realização de seu Segundo Congresso, o PT tem uma imagem pública composta de muitos aspectos, dentre os quais, alguns correspondem às virtudes do partido, outros aos seus erros ou deficiências e outros ainda a preconceitos disseminados na opinião pública. A sociedade avalia positivamente o PT, por exemplo, por zelar pela moralidade e responsabilidade para com a coisa pública. Percebe no partido uma certa dificuldade de formulação de um programa para o país e uma certa falta de perspectiva propositiva. Julga como negativos o suposto radicalismo e as disputas internas que são freqüentemente focalizadas pela imprensa.

Como se sabe, historicamente, o PT é constituído por tendências internas que disputam entre si desde a formulação política até a direção partidária. Muitos vêem nisso um caráter de frente do partido e uma estrutura fragmentada e paralisante. Registre-se que, nos últimos anos, as tendências vêm evoluindo no sentido de formarem dois campos políticos internos: um denominado de moderado e outro, de radical. Tanto a existência das tendências quanto sua evolução para dois ou mais campos políticos internos, são fatores que cumprem uma função positiva no partido. Além de fomentarem o debate de idéias e propostas, eles impedem que o PT se cristalize como um partido de caciques políticos, prática generalizada na vida política brasileira. Mas um partido composto por grupos e tendências plurais só adquire eficácia se tiver uma adequada estrutura normativa e estatutária, definidora tanto dos processos de disputa, quanto dos processos decisórios e da disciplina. Só esta estrutura normativa é capaz de evitar a guerra fratricida e o facciosismo paralisanate.

Quais as vantagens que o partido e o sistema político retiram desse tipo de estrutura? O partido retira a vantagem da pluralidade interna com a disciplina partidária fundada na unidade de ação. O sistema político incorpora a vantagem de contar com sujeitos políticos (os partidos), que agem racionalmente. Um sistema político-partidário no qual os políticos, os parlamentares, votam e agem a partir do seu livre-arbítrio confere um alto grau de instabilidade e de imprevisibilidade ao funcionamento da democracia. Por sua prática pluralista interna e disciplinada na ação, o PT pode e vem influenciando positivamente as outras agremiações partidárias no sentido de uma maior coerência.

Tendo em vista o grau de diferenciação interna do PT, entre tendências ou entre moderados e radicais, muitos sugerem que o partido deveria se dividir. Nada mais equivocado. Em primeiro lugar, porque existem partidos demais no Brasil. Em segundo, porque o PT retrocederia às práticas da velha esquerda que se dividida em torno de simples divergências. E, em terceiro lugar, a divisão faria com que o PT deixasse de ser o PT. O paradoxo moderados/radicais, na verdade, chega a produzir uma certa virtuosidade no PT: na medida em que um grupo tempera o outro, impede-se, de um lado, o radicalismo inconseqüente e a fuga para ações ilegais e limita-se, por outro, a moderação excessiva que tende à conciliação. Por ser o partido com alto grau de enraizamento social, o radicalismo e a moderação do PT são mais expressões de uma realidade social do que caprichos políticos e ideológicos.

A virtude do PT é a de constituir-se nesse paradoxo de ser moderado e radical e manter sua unidade. O PT é moderado no sentido de que age na legalidade, inclusive, para modificá-la, reformá-la. A perspetiva estratégica do PT é a da mudança pela reforma. Até mesmo os radicais do partido, nas suas práticas, são reformadores. O PT é um partido de esquerda moderado na medida em que assimilou a democracia e o valor da liberdade como componentes irrenunciáveis de seus propósitos. Mas ao mesmo tempo o PT é radical porque põe-se fora da tradição política brasileira que sempre promoveu as transições conservadoras, as mudanças pelo alto, excludentes do povo, tanto no sentido político quanto social e econômico. O PT nasceu com a vocação para contribuir com a construção da cidadania política, integrar o povo à política, superar a exclusão social, democratizar o capital e a riqueza. Da mesma forma que não se pode renunciar à democracia e à liberdade, não se pode renunciar esta opção social, esta aposta pela sociedade, pelos que mais sofrem as conseqüências de um capitalismo de privilégios e de uma ordem injusta.

O próprio presidente Fernando Henrique reconheceu, em Florença, que o Brasil enfrenta desafios que os outros países superaram no século passado. Infelizmente, o seu governo optou por perpetuá-los. São precisamente estes os desafios que o PT põe no centro de seu programa: a pobreza, a reforma agrária, a educação, a saúde, o crescimento econômico com distribuição de renda etc. Somente uma política radical será capaz de enfrentá-los. Para isso é preciso fugir das armadilhas das conciliações nacionais, das mudanças pelo alto, que se constituíram na astúcia das elites para manter um inalterado império de privilégios que vem se reproduzindo por formas alteradas em nossa história. O Brasil só será moderno, desenvolvido e justo no dia em que superar esses grilhões do atraso.

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