1982-2002

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A nova fisionomia política de São Paulo

O estado de São Paulo vem sofrendo na última década um processo de mudança política que aponta para uma nova configuração de atores e de forças no cenário eleitoral. Tomando como ponto de partida a fase final do regime militar e o processo de redemocratização, podemos dizer que emergiu daquelas circunstâncias históricas um jogo político polarizado por duas forças: uma de direita, identificada ora no malufismo, ora no janismo ou com alguma de suas adjacências; e outra de centro-esquerda, que se expressou no eixo MDB-PMDB-PSDB e em figuras como Franco Montoro, Quércia, Mário Covas, etc.

A forma dessa polarização pode ser visualizada nas disputas para o governo do Estado que opuseram Montoro e Reinaldo de Barros, em 1982; Quércia e Maluf, em 1986; Fleury e Maluf, em 1990; Covas e Rossi, em 1994; e Covas e Maluf, em 1998. Na capital do Estado, o cenário foi um pouco diferente: em 1985 a disputa municipal foi polarizada entre Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso. Já a partir 1988, com a vitória de Luiza Erundina, afirma-se a polarização entre direita e esquerda. Em 1992, a disputa será entre Maluf e Eduardo Suplicy e, em 1996, entre Maluf e Erundina novamente. O desempenho crescente do PT nas eleições estaduais desde 1982 confirma a ascensão da esquerda como alternativa autônoma e competitiva, não só na capital, mas no Estado. Ascensão também confirmada pela vitória do PT em cidades importantes como Campinas, Diadema, Santos, São Bernardo, Santo André, Ribeirão Preto, etc. O surgimento do PSDB e o predomínio do quercismo no PMDB foram descaracterizando esta agremiação de seu conteúdo de centro-esquerda.

Em paralelo à ascensão da esquerda como uma força polar no Estado, dois outros processos políticos desenvolveram-se. O primeiro diz respeito ao declínio relativo das forças de direita e de suas variantes de centro-direita: o janismo, o malufismo, o quercismo, etc. O segundo se refere à lenta, mas inexorável descaracterização do PSDB como força de centro-esquerda. Esse processo se inicia com um ensaio de namoro entre os tucanos e Collor de Mello e se sacramenta sob o governo Itamar quando o PSDB firma uma aliança com as forças liberais-conservadoras. No Estado, esta mudança é mais sinuosa, mas não menos efetiva. O conteúdo dos dois governos de Covas é inequívoco no sentido de apontar a marcha para a centro-direita do PSDB. Sinteticamente, a administração Covas não foge ao figurino nacional das reformas conservadoras explicitado no corte de gastos sociais, no modelo de privatizações que significa um neopatrimonialismo, na reforma administrativa com um mero conteúdo fiscal, na destruição do poder público nas suas funções social, de regulação, de fiscalização e de prestação de serviço, etc.

Um rápido olhar sobre a herança das administrações de direita e suas variantes (Jânio, Maluf, Quércia, Fleury e Pitta) permite concluir que o saldo é trágico: irresponsabilidade administrativa, destruição da capacidade financeira do Estado e do município, sucatamento dos instrumentos de políticas públicas e denúncias generalizadas de corrupção. Na verdade, a política dessas forças se caracteriza mais pela aventura e pela apropriação privada do público do que pela instituição de um modelo ou projeto. É esta herança que se constitui na principal causa de seu declínio. Mas é preciso notar que tendências políticas não são fatos consumados: elas podem sofrer uma retração aqui, outra acolá ou, até mesmo, podem ser revertidas. É preciso ver, por exemplo, no próximo ano, se o malufismo terá uma sobrevida ou se está definitivamente liquidado.

Mas, se as tendências se confirmarem, o mais provável é que, no próximo período, teremos em São Paulo e na capital uma polarização em que um dos pólos será o PT e as forças de esquerda e o outro, a de centro-direita, representada pelo PSDB. Neste último caso é preciso notar, também, o esforço que o PFL faz para viabilizar-se nesse espaço. Se a hipótese aqui trabalhada é viável, o discurso e a estratégia do PSDB terão como objetivo disputar o eleitorado de direita e de centro-direita. Isto, em parte, implicará perda de uma parcela do eleitorado de centro e centro-esquerda. Já o PT, para tornar-se eleitoralmente competitivo, além de consolidar-se como a principal agremiação de esquerda, precisará acenar para o centro e centro-esquerda.

Essas noções de "direita", "centro" e "esquerda" se definem menos pela ideologia e mais pelo conteúdo programático e pelos valores. Uma política de esquerda pode e deve buscar o eleitorado de centro pela ampliação de seu programa, contemplando interesses sociais e econômicos mais abrangentes, e não pelo abandono de determinadas prioridades vinculadas aos setores menos favorecidos. A esquerda precisa compreender que é possível ampliar seu espectro político e eleitoral sem abandonar sua identidade. A concomitância de tarefas que a cidade de São Paulo, o Estado e o Brasil exigem - concomitância sintetizada na combinação da busca do desenvolvimento com justiça social - permite e de certa forma implica um programa abrangente, capaz de aglutinar um amplo leque social, econômico e político

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