1982-2002

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O novo milênio

A humanidade começa mal o novo milênio. Os especialistas e os relatórios do Banco Mundial dizem que em nenhuma outra Era anterior a pobreza e fomes coletivas foram tão generalizadas como agora. De acordo com dados do Banco Mundial, hoje, a humanidade é composta por seis bilhões de pessoas. Cinco bilhões vivem nos países considerados pobres. Os países ricos tem 15% da população mundial e controlam 80% da renda global. Os países de média e baixa rendas agregam 85% da população e apenas 20% da renda global. Se separarmos desse último bloco apenas os países de baixa renda, veremos que eles comportam 56% da população mundial e apenas 5% da renda global.

Das 6 bilhões de pessoas, 2,8 bilhões, quase a metade da humanidade, vivem com menos de US$ 2 por dia. Destas, 1,2 bilhão vive com menos de um dólar por dia. Nos últimos dez anos, no Leste Europeu a pobreza se multiplicou por 20. Nestes países, os serviços de saúde e educação, que estavam dentre os melhores do mundo, deterioraram-se drasticamente. A África está sendo dizimada por fomes coletivas e epidemias. A pobreza cresce em todos os continentes, inclusive nos países ricos. A partir dos anos 80, o salário real, em muitos países, chegou a cair 20%. Nos Estados Unidos aumenta a diferença salarial: somente os trabalhadores com formação universitária conseguem ganhos reais. Em muitos países em desenvolvimento, 60% da renda nacional está concentrada nas mãos de 20% da população.

A humanidade enfrenta inúmeros outros problemas. A deterioração do meio ambiente e o aquecimento global estão entre os mais graves. Os países ricos têm se negado sistematicamente a adotar medidas com vistas à diminuição da emissão de substâncias poluentes. Esses mesmos países têm adotado medidas protecionistas de suas economias, que fazem aumentar o abismo entre países ricos e pobres. Mais de uma centena de países pobres está submetida a um processo violento de cobrança de dívidas, que bloqueia a possibilidade de desenvolvimento.

Hoje há um poder global invisível concentrado nas mãos do sistema financeiro internacional e das grandes corporações transnacionais. O FMI, o Banco Mundial e a OMC compõem a linha de frente desse poder, que vem impondo um programa mundial de ajuste macroeconômico, cujos efeitos é a destruição das economias nacionais, a perda de poder aquisitivo dos assalariados, o corte de verbas para políticas sociais, o fechamento de hospitais e escolas públicas, o ressurgimento de doenças contagiosas etc. Esse poder global condiciona os orçamentos nacionais e aplasta o poder e a ação dos governos e instituições dos Estados nacionais, reduzindo sua autonomia decisória e solapando sua soberania. A rigor, os governos nacionais perderam sua autonomia de gestão política e econômica e obedecem as orientações do sistema financeiro internacional. O Brasil é um dos exemplos mais veementes neste sentido. O nosso governo tem se curvado reiteradamente à vontade do FMI, que, como se sabe, representa os interesses financeiros privados dos centros desenvolvidos do capitalismo global.

A conseqüência de tudo isso é a redução à impotência social, econômica e política de milhões de pessoas. As pessoas inseridas nos processos de pobreza são incapazes de reagir e de reivindicar. As próprias organizações sociais e os sindicatos tiveram sua importância e capacidade de ação reduzidas por esse processo de globalização econômica, de reestruturação flexível da produção e do trabalho e de reengenharia da gestão empresarial.

Esse processo de mudanças tecnológicas, de flexibilização, de reorganização do tempo e de concentração de poder sem precedentes nos centros globais do capitalismo e nos núcleos decisórios das empresas vem provocando uma crise moral nas sociedades. A superficialidade das relações sociais, a quebra das lealdades, o fim do senso de responsabilidade individual, a instabilidade psicológica e emocional, a quebra do valor de solidariedade, um comportamento que não segue normas, o ultra-individualismo e o colapso das normas e valores, são alguns dos sintomas dessa crise moral e crise de autoridade. Os consultores da reengenharia e da reestruturação flexível determinam o corte de empregos como se lidassem apenas com frios números. As pessoas com mais de 40 anos têm o acesso ao trabalho bloqueado. Cria-se, assim, enormes contingentes de seres humanos descartáveis.

Tornou-se imperioso reagir contra os centros de poder global. Nesse sentido, não há soluções técnicas para o problema da pobreza e da dependência dos países em desenvolvimento. A saída é política e envolve a articulação de forças sociais e políticas internas aos países e uma articulação dos países dependentes entre si. Exigir regras de comércio e de circulação de capitais que protejam as economias em desenvolvimento e reivindicar a reorganização, a democratização e a redefinição das finalidades de organismos como a ONU, FMI, Banco Mundial e OMC, são apenas algumas dessas medidas de enfrentamento político à globalização perversa. E na medida em que a globalização permite, pela primeira vez, empregar o conceito de humanidade de um ponto de vista concreto, devemos construir um sistema de referência em valores em torno da idéia de destino compartilhado entre as sociedades humanas. Sentirmo-nos responsáveis e necessários uns para com os outros, solidários, portanto, pressupondo que o mundo deve ser bom para todos, é uma medida que pode nos restituir a moralidade, imprescindível às relações humanas.

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