1982-2002

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O declínio do malufismo

Apesar de Paulo Maluf conseguir 41,5% dos votos válidos, o resultado não consegue esconder o declínio do malufismo. Maluf obteve, em 1998, na disputa do segundo turno contra Mário Covas, cerca de 45% dos votos. As votações de primeiro turno também indicam trajetória descendente do malufismo: em 1990 ele obteve 37,9% dos votos; em 1992, 37,3%; em 1998, 29,6% e em 2000, 15,7%. Outro dado relevante que deve ser considerado é que, com exceção de Porto Alegre e Maceió, onde o segundo turno foi disputado entre candidatos de partidos do campo das oposições, a eleição em São Paulo foi a que apresentou a maior diferença de votos entre os dois candidatos nas capitais.

Mas se levarmos em conta a onda de corrupção comprovada e de denúncias que ainda estão sendo investigadas que varreu São Paulo nos últimos oito anos, a votação de Maluf pode ser considerada razoável. Alguns fatores explicam isso. Cerca de 15% a 20% dos votos de Maluf devem ser creditados ao malufismo, ideologia de direita herdeira do ademarismo e do janismo. Aparentemente, esta ideologia foi mais forte no passado. Hoje ela tende a se acantonar em torno dos 10% a 15% do eleitores, número mais ou menos compatível ao eleitorado de direita de alguns países europeus. Claro que numa eleição polarizada de segundo turno, um candidato de direita tende a agregar apoios de parcelas de eleitores de centro.

Mesmo sendo verdade que boa parte do eleitorado não vota por ideologia, numa eleição ideologicamente polarizada como foi a de São Paulo, o fator ideológico tende a alavancar afinidades dos votos não-ideológicos. A grosso modo, podemos definir uma clivagem ideológica do eleitorado paulistano nos seguintes termos: petismo, antipetismo, malufismo e antimalufismo. O antipetismo é mais amplo que o malufismo da mesma forma que o antimalufismo é mais amplo que o petismo. Neste momento, porém,, as comparações dos resultados de primeiro e segundo turnos mostram que antipetismo e malufismo apresentam tendências declinantes, e o petismo e o antimalufismo estão em expansão.

No segundo turno, Maluf explorou essencialmente o antipetismo, sintetizado na fórmula, "dona Marta do PT". A estratégia malufista julgou conveniente juntar a imagem da candidata com a do PT. Provavelmente, isto se deveu à avaliação de que alguns temas abordados por Marta na Câmara suscitariam perda de votos. Em 1992, no segundo turno, a estratégia também foi explorar o antipetismo. Mas o viés foi diferente. Com a fórmula, "não temos nada contra o Suplicy, mas não queremos o PT mandando aqui", a idéia era dissociar a imagem positiva dele da suposta imagem negativa do partido, centrando o ataque no PT.

Com a fórmula associativa "dona Marta do PT", a estratégia malufista consistiu em explorar, de um lado, a demonização do PT, identificando-o com o MST, com invasões, greves, ocupações e supostos fracassos na gestão Luiza Erundina. E, por outro lado, introduziu uma agenda ideológica, não relacionada à eleição, associando-a a Marta, ao explorar os temas do aborto, do homossexualismo, dos direitos humanos e da violência. Para viabilizar sua estratégia, Maluf usou expedientes espúrios: partiu para ataques pessoais, insinuou, caluniou, disseminou inverdades, explorou um seqüestro inexistente, utilizou as imagens de um padre sem autorização, etc. Foi desta forma que agregou o apoio do preconceito, da intolerância, da incompreensão e até de uma cultura antidemocrática que, de fato, como mostram pesquisas, é alimentada por setores significativos da sociedade.

Apesar de toda a guerra abjeta do malufismo, a vitória de Marta revela o fortalecimento da cultura democrática, da aceitabilidade cada vez maior da temática dos direitos civis e humanos, da crescente exigência republicana da moralidade pública e da valorização também crescente da agenda social. O êxito da administração de Marta reduzirá ainda mais o antipetismo e o preconceito. O malufismo, isolado e em declínio, ao que tudo indica, não deixará herdeiros. Isto abrirá espaço para uma redefinição da direita não só em São Paulo, mas em todo o Brasil.

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