1982-2002

Artigos | Projetos | Docs. Partidários

Versão para impressão  | Indicar para amigo

Artigos


São Paulo: entre a corrupção e a moralidade

A finalidade específica da política consiste na busca da realização do bom governo. Neste sentido, não pertence à esfera própria da atividade política pregar valores morais. Mas nenhum bom governo será produzido, nenhuma política terá dignidade, se ambos, governo e política, não forem atividades orientadas por valores. Assim, as disputas políticas envolvem também, sempre, disputa de valores. O segundo turno das eleições municipais está trazendo à tona a ilimitação da falta de escrúpulos por parte de alguns candidatos para chegar ao poder. Sabendo-se que a última instância da política é a violência, toda a falta de escrúpulos e toda fuga da conduta ética e democrática não podem ser aceitas por aqueles que entendem que a democracia e a busca de uma sociedade civilizada são valores dos quais não se pode abrir mão.

O segundo turno fez reviver, em vários lugares, uma campanha terrorista contra o PT e a oposição. Semeia-se o medo, a intolerância, joga-se bombas em comitês de candidatos, como ocorreu em Guarulhos. Chega-se a assassinar alguns integrantes do Partido. Demoniza-se o MST, um movimento social legítimo, e apresenta-se o PT como uma espécie de sócio-conselheiro do demônio. A defesa que o PT faz dos direitos civis é transformada em pecado e o hediondo pecado da corrupção passa a ser aceito como conduta normal dos políticos. O vale-tudo e a falta de escrúpulos faz com que, em Curitiba, o prefeito-candidato conceda a anistia de multas e a meia passagem aos estudantes na semana das eleições. Em outras cidades, os prefeitos-candidatos inauguram obras sem a menor cerimônia.

Em nenhuma outra cidade do país a disputa entre valores contrapostos está sendo tão emblemática quanto em São Paulo. A antítese desta disputa consiste em que a eleição será um plebiscito entre a corrupção e a moralidade na vida pública, entre o autoritarismo e a democracia. O PT combate a corrupção, não porque ele se pressupõe o reino da virtude, mas porque a moralidade para com a coisa pública é uma exigência intrínseca a uma ordem política democrática e republicana. A corrupção é a negação do poder público como uma coisa do público.

Votar na moralidade significa afirmar a idéia de que os paulistanos têm bens públicos comuns e finalidades comuns. É precisamente nisto que consiste a vida ética. Votar na moralidade significa negar a solidariedade demagógica para com as vítimas da violência para afirmar uma política de segurança que visa evitar a violência preventivamente. É fácil discursar na televisão o discurso oportunista da solidariedade às vítimas da violência. Mas a responsabilidade política exige que o governante faça algo para impedir a violência. É este o dever solidário do governante para com a sociedade e os cidadãos.

Além do mau exemplo, a corrupção levou dos cofres públicos municipais cerca de R$ 15 bilhões nos últimos anos. Isto não significa apenas uma espantosa transferência de dinheiro público para bolsos privados. A corrupção significa a falta de escolas, de creches, de hospitais, de viaturas, de urbanização, de emprego, de transporte coletivo, de lazer etc. Em boa medida, é a corrupção que põe a arma na mão do assaltante, ao proporcionar o mau exemplo e ao impedir o investimento público nas pessoas. Estudos de organizações especializadas mostram que a corrupção se tornou em São Paulo e no Brasil um fator de bloqueio do desenvolvimento econômico. Se ela fosse diminuída em apenas 10%, em poucos anos, a renda per capita dos brasileiros duplicaria.

A disputa em São Paulo opõe também uma alternativa democrática, pautada por um conjunto de propostas para a Cidade, ao autoritarismo inescrupuloso. O convívio democrático pressupõe o respeito e o reconhecimento entre os oponentes. Mas quando se enfrenta o ardil, a mentira, a imoralidade e a difamação, a disputa foge dos padrões democráticos e a discussão séria de propostas é inviabilizada. Supor que as alternativas postas na disputa paulistana são equivalentes e apenas diferentes, significa supor que a democracia equivale ao autoritarismo e que a corrupção equivale à moralidade. Infelizmente, alguns programas de rádio e TV engajaram-se explicitamente na empreitada de legitimar a corrupção e o autoritarismo. Acreditamos que quando se trata de negar o autoritarismo não se pode ficar neutro.

A eleição de São Paulo é emblemática porque se decidirá se o discurso político deve ser merecedor de confiança e se a moralidade deve conferir dignidade à política ou se se deve dar crédito a um discurso que não passa de uma fraude para enganar a boa fé do eleitor e para legitimar práticas abjetas. É preciso decidir se a astúcia de enganar deve continuar a extorquir a esperança dos paulistanos por uma cidade melhor ou se é possível recuperar o valor da palavra e da promessa como qualidades capazes de estabelecer a confiabilidade e o diálogo entre seres humanos. Em política, nenhuma moralidade é possível quando não se pode confiar na intenção de fazer o bem e na capacidade de fazer promessas e cumpri-las. Por tudo isso, a vitória de Marta não representa apenas a vitória de um partido ou uma vitória pessoal, mas expressa a restauração da moralidade e o triunfo das forças democráticas de São Paulo.

Busca no site:
Receba nossos informativos.
Preencha os dados abaixo:
Nome:
E-mail: