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As tendências eleitorais

O conjunto das pesquisas sobre intenção de voto já permitem um desenho mais consolidado sobre as tendências das eleições municipais, ao menos para o primeiro turno. Um dos aspectos que chama a atenção e já suscita debates na mídia diz respeito ao aparente paradoxo entre a impopularidade do presidente Fernando Henrique e do governo com o razoável desempenho eleitoral do PSDB. A explicação para este contraste pode ser encontrada em alguns fatores. O principal deles, talvez, consista na prática generalizada dos candidatos tucanos de omitirem tanto o nome do partido quanto a sua vinculação com o presidente. Esconde-se do eleitor o fato de que o PSDB governa o país há seis anos.

A omissão da legenda partidária representa uma distorção democrática e um atraso político. Tanto no meio político quanto acadêmico, clama-se pela necessidade do fortalecimento dos partidos como forma de consolidação da democracia. Justamente o partido que mais tem vinculação com o pensamento sociológico é o que procura evadir-se de sua própria face, transformando as eleições numa disputa entre personalidades.

Em paralelo ao sumiço dos partidos, o governo federal fez um enorme esforço para subtrair-se da conjuntura. Da operação abafa da CPI do escândalo Eduardo Jorge à retirada da agenda política de qualquer tema polêmico, a exemplo da reforma tributária, e salvo um ou outro fato secundário, é como se o governo tivesse entrado em férias coletivas. Credite-se a alguns candidatos tucanos, a aprovação que tiveram em alguma administração passada ou em algumas administrações atuais.

As pesquisas revelam também a tendência geral da reeleição dos atuais prefeitos que disputam o pleito. Junto com esta tendência, crescem as denúncias do uso da máquina administrativa, dos esquemas de poder e do aumento de gastos com publicidade oficial. Esse quadro remete para a necessidade de uma reavaliação do instituto da reeleição, com a perspectiva de seu cancelamento. A reeleição introduziu um fator de desigualdade nas disputas eleitorais, garantindo o uso dos instrumentos públicos para a promoção eleitoral do governante. Se o instituto da reeleição não for suprimido, deve-se buscar instrumentos legais para coibir o uso da máquina, como a exigência do afastamento de seis meses a um ano do governante que concorrer à reeleição.

A tendência mais positiva que as pesquisas indicam, consiste no declínio generalizado daqueles candidatos vinculados a práticas de corrupção. Com a consolidação da experiência eleitoral, parece que o eleitorado começa a perceber que a magia das obras e das promessas fáceis e abundantes não passa de uma falácia. Moralidade pública e políticas sociais são dois eixos temáticos em franca valorização pelo eleitor. Nesse sentido, as eleições podem proporcionar o advento de uma nova geração de políticos, com perfis mais éticos e modernizantes, o que será bom para o Brasil.

E a oposição? As pesquisas indicam a continuação da trajetória de crescimento da oposição, particularmente do PT. O crescimento da oposição deve ocorrer nas pequenas, médias e grandes cidades. Aparentemente, será um crescimento superior ao verificado quatro anos atrás. Mas ainda não representará uma virada em relação aos partidos do atual bloco de poder. A oposição enfrenta uma certa dificuldade na calibragem do discurso entre a temática local e a temática nacional. A ênfase maior, como era de se esperar, recaiu sobre a temática municipal. Mas na medida em que o quadro dos candidatos viáveis vai se definindo e, especialmente, no segundo turno, os temas da política nacional tenderão a equilibrar-se com os temas municipais.

Por fim, uma tendência que as atuais eleições não parecem configurar é a da definição de um quadro partidário mais consolidado. Há um excesso de partidos e uma indefinição dos espaços políticos pelos mesmos. O ideal é que se definissem três configurações partidárias, embora não necessariamente três partidos, mas três blocos: um de esquerda, um de centro e um de direita. O quadro de candidaturas, no entanto, indica uma pulverização do centro e uma certa diluição da direita no centro e uma tendência de crescimento da pulverização da esquerda. Quem perde com isso, por um lado, é o eleitor, que terá mais dificuldade para identificar os interesses reais em jogo. Por outro, é a racionalidade do próprio sistema decisório na esfera institucional, que será sobrecarregada por sistemas negociais que dificultam a eficácia e provocam perdas de recursos públicos.

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