1982-2002

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A decomposição da política

O Brasil vive um momento de profunda decomposição política. A incapacidade das instituições e a corrupção do poder público chegaram a tal ponto que o cidadão comum e honesto se sente desmoralizado e humilhado. Até mesmo ser político torna-se algo vergonhoso. Os corruptos perderam todo o pudor: promovem guerras públicas e televisivas de acusações uns contra os outros, divulgam listas de propinas, pressionam ao vivo, ameaçam de morte quem denuncia ou quem investiga e chegam até a matar. Em paralelo, marcha a ineficiência das instituições: o paulistano, por exemplo, tem a sensação de que não há governo municipal, não há governo estadual e não há governo federal. Este mesmo sentimento é experimentado por inúmeros outros munícipes brasileiros.

A ineficiência, a corrupção e a desmoralização das instituições chegou tão longe que um dos maiores traficantes, Fernandinho Beira Mar, em entrevistas à imprensa reclama que está sendo achacado pela polícia. Bandas podres da polícia comandam a segurança pública de Estados, Câmaras de vereadores quase inteiras são denunciadas e até presas por corrupção, prefeituras tornam-se aparatos de máfias e de quadrilhas, juízes desviam verbas, vendem sentenças para traficantes ou mandam soltar bandidos e corruptos, o narcotráfico infiltrou-se em todos os poros do poder público, a violência assumiu índices assustadores, as farmácias vendem remédios "bom para otário" e até mesmo o pedinte ameaça riscar o carro do transeunte se este não lhe der dinheiro.

Em Brasília, o Congresso está parado. Somente o bate-boca e a guerra de dossiês entre dois ilustres senadores agitam o Parlamento agonizante. Para compreender o atual estado de humilhação dos brasileiros é preciso lembrar que esta onda de decomposição da política foi antecedida pela crise econômica, pelo financiamento das privatizações com dinheiro público, pela suspeita de favorecimento de determinados grupos nas privatizações, pela ajuda indecorosa aos bancos, por falências fraudulentas etc. Mais do que nunca o Brasil parece ser o país da corrupção, do jeitinho, da malandragem, da burla à lei, da sonegação e da impunidade.

Humilhado, desmoralizado e até imbecil! É assim que muitas pessoas honestas estão se sentindo. Ou como deveria sentir-se o contribuinte que paga seus impostos, o correntista que vê a imposto do cheque descontado em sua saldo bancário e o trabalhador que vê o Imposto de Renda subtraído diretamente de seu salário? Como deveria sentir-se o cidadão quando percebe que o Estado tornou-se um monstro fiscalista que arrecada mais de 30% do PIB e quase nada devolve para a sociedade? Quando percebe que quase tudo é consumido pela máquina da ineficiência e da corrupção? Quando é informado pela imprensa que os vereadores de Embu fazem turismo com o dinheiro público e trazem da Argentina diplomas falsificados de participação em simpósios, escritos em portunhol? Quando fica sabendo que a Prefeitura de Guarulhos paga uma empresa de segurança para proteger altos funcionários municipais e vereadores? Quando lhe dizem que o juiz Nicolau, depois de denunciado de desviar R$ 200 milhões vive uma vida nababesca? Quando lhe narram que os ex-diretores do Banco Econômico estão milionários? Quando sabe o que sabe sobre a Prefeitura de São Paulo? Quando lembra que a corrupção da era Collor e dos Anões do Orçamento e tantas outras corrupções não foram punidas?

Infelizmente, o número de cidadãos desalentados, dispostos a anular seu voto, cresce dia a dia. Cresce também o número de pessoas que pretendem se auto-exilar por falta de perspectivas. Torna-se necessário dizer que o Brasil e os brasileiros são maiores que suas instituições, que seus políticos. A indignação e a participação cívica devem substituir o desalento e o desencanto. A sociedade precisa reagir e cobrar. Os políticos e os partidos sérios e responsáveis têm o dever de apontar saídas e alternativas.

Hoje não basta dizer: "não vote no corrupto, vote no honesto". É preciso acrescentar quais as reformas e as mudanças que se fazem necessárias para que a corrupção deixe de ser estrutural, para que as instituições funcionem e para que a impunidade deixe de existir. Se isto não for feito, o honesto poderá governar quatro ou oito anos e ser novamente substituído pelo corrupto para então não sobrar nada sobre nada, voltar tudo à estaca zero. Por isto, o combate à corrupção não pode ser apenas moral. Ela precisa ser quantificada economicamente e precisa ser combatida pelo aperfeiçoamento das instituições e das leis.

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