1982-2002

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O cenário político de 2000

A recuperação dos índices de popularidade do presidente Fernando Henrique, embora lenta e ainda longe dos momentos áureos do início do primeiro mandato, coloca para a oposição a necessidade de adequar sua tática política a essa nova tendência. A oposição, no ano passado, debateu-se entre duas alternativas: o fora FHC, que foi refutado pela maior parte dos partidos de esquerda, e a luta para derrotar a política econômica do governo, tática que vem sendo aplicada até agora. O ano passado, de fato, foi marcado pela crise da desvalorização do Real, pelas denúncias de irregularidades nas privatizações e pela forte crise econômica e social, fatores que geraram tensões políticas e a retomada de mobilizações.

No início deste ano, no entanto, se verifica uma mudança de tendências e de expectativas, que precisam ser levadas em conta pela oposição. Na área governamental, a retomada do controle da variável cambial pelo Banco Central, a inflação relativamente controlada, os superávits primários e um maior controle nas contas públicas, dissiparam os temores de uma perda total de controle por parte do governo. O governo teve êxito também em barrar as investigações das denúncias de corrupção. Este quadro conteve o descontentamento e possíveis dissidências que ameaçavam surgir na base governista. O resultado dessa contenção se manifestou, por exemplo, na recente votação da Desvinculação das Receitas da União, quanto o governo conseguiu manter os 3/5 de votos no Congresso que tinha no primeiro mandato.

Na economia de mercado também houve uma mudança de expectativas. Tanto as pesquisas entre empresários quanto aquelas que aferem a opinião geral indicam que há um certo otimismo em relação ao desempenho da economia. A maior parte dos empresários manifesta a intenção de ampliar os investimentos que, somados aos crescentes investimentos estrangeiros, tendem a proporcionar a retomada do crescimento econômico. Todas estas tendências precisam ser dimensionadas da seguinte forma: se é verdade que o governo não se encontra com a corda no pescoço como parecia estar no ano passado, também é verdade que não navega num mar absolutamente tranqüilo.

Estimativas de especialistas indicam que mesmo que o Brasil cresça entre 3% a 4%, isto ainda será insuficiente para resolver o grave problema do desemprego. Este nível de crescimento seria apenas suficiente para absorver as novas demandas emprego que se apresentam neste ano. O que significa que se o crescimento desemprego será contido ao mesmo tempo não sofrerá um decréscimo drástico. O tema do desemprego, portanto, permanece como ponto central na agenda política da oposição e do movimento sindical. A própria manutenção de uma taxa de juros bem superior aos padrões internacionais é um fator que inibe uma retomada mais forte de investimentos. Em paralelo, a questão salarial está voltando à tona. Nos últimos cinco anos, os salários obtiveram reajustes bastante modestos. Com a desvalorização cambial perderam poder aquisitivo. Além destes pontos e da agenda normal do Congresso, que terá como ênfase a reforma Tributária e a reforma do Judiciário, a oposição deve definir um outro conjunto de temas para a sua agenda. Destaque-se a permanente questão social, a violência urbana, a deficiência dos serviços privatizados e a desnacionalização da economia. Em suma, a disputa entre governo e oposição se dará, na superfície, em torno desses e de outros temas, e, no fundo, em torno de alternativas distintas para o país.

De resto, o ano será marcado pelas eleições municipais. Aqui, a tendência é de um crescimento da oposição, com a ampliação de seus espaços nas prefeituras a e nas câmaras municipais. Mas é preciso perceber que as eleições tendem a perder o caráter plebiscitário, de julgamento do governo, que se configurava no ano passado. A temática local, a crise urbana e os problemas sociais devem polarizar as disputas. A possibilidade da oposição apresentar-se fragmentada e dividida em cidades como, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte, representa um alto risco político. A derrota da oposição nessas capitais sinalizaria uma importante tendência para as eleições gerais de 2002. Empenhar-se para construir a unidade da esquerda nos principais centros urbanos do país, além de responsabilidade, é um imperativo político.

O leitor deve ter percebido também que neste início de ano já estão sendo feitos alguns ensaios para a sucessão presidencial. Neste terreno, porém, há mais dúvidas que certezas. Por enquanto Lula lidera, seguido por Ciro Gomes. Mas a pergunta que se faz hoje é até que ponto a candidatura Ciro se sustenta. Se a tendência de recuperação do governo se mantiver, é provável que a alternativa Ciro se enfraqueça no momento em que o bloco governista, que deve a se manter unido, apresentar o seu candidato. O PMDB ainda não decidiu sua opção e nas oposições não há certeza sobre a manutenção de sua unidade. Somente com o resultado das eleições municipais, os partidos e os líderes políticos definirão suas estratégias para as eleições gerais de 2002.

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