1982-2002

Artigos | Projetos | Docs. Partidários

Versão para impressão  | Indicar para amigo

Artigos


Não ao terror e à guerra

Nunca é demais reiterar o repúdio aos atos terroristas praticados nos Estados Unidos, no último dia 11 de setembro. Nem a fé, nem qualquer religião, nem Deus e nem Alá precisam se alimentar do sangue das incontáveis vítimas, a maioria inocente, que já foram feitas em seus nomes ao longo da história. Assim como o ecumenismo religioso é a base da tolerância religiosa, o reconhecimento do pluralismo político, étnico e civilizacional deve constituir-se no fundamento de um mundo mais compreensivo e do convívio mais pacífico entre os povos. A consciência de que nenhuma finalidade e nenhum meio para conseguí-la podem estar acima da vida humana deve ser a base da condenação dos atentados terroristas.

Após um primeiro momento de espanto diante da destruição e das milhares de vítimas provocadas pelo terror, o mundo discute e teme a possibilidade de uma guerra que seria desencadeada contra o Afeganistão, país que abriga Osama bin Laden, o suposto organizador dos atentados. Acreditamos que a melhor forma de punir os terroristas não é através de uma guerra que, fatalmente, vitimará milhares de pessoas inocentes. O Afeganistão, país de pastores e agricultores, vive há 23 anos em guerras e sofre uma terrível seca. Punir toda a população de milhões de desesperados com uma guerra representa um gesto que, moralmente, se eqüivale aos atos terroristas.

Uma guerra contra o Afeganistão provocaria graves conseqüências para todo o mundo, mas principalmente para aquela região da Ásia. O Paquistão, país vizinho do Afeganistão e que possui armas nucleares, pode sofrer uma guerra civil interna já que a maioria da população muçulmana apoia o governo do Taleban e é contrária aos Estados Unidos. Outros países vizinhos podem ver-se envolvidos numa guerra de conseqüências trágicas e desfecho imprevisível. Análises indicam que toda a economia mundial seria fortemente afetada pela guerra. Mesmo antes que ela aconteça, empresas da Europa, dos Estados Unidos, do Japão e da América Latina recuam em seus programas de investimentos, gerando desaceleração da economia e a perda de milhares de empregos. A economia mundial, que já não vinha bem, pode mergulhar numa profunda recessão.

O repúdio ao terrorismo, a solidariedade para com o povo norte-americano não podem servir de pretexto para a afirmação da retórica da violência e da vingança, tal como vem sendo exercida por algumas autoridades dos Estados Unidos. A idéia de que o país mais poderoso do mundo pode agir ignorando o Direito Internacional, que pode usar métodos de "guerra suja" e que pode suspender direitos civis e individuais mesmo dentro dos EUA representa um enorme retrocesso democrático e nos valores civilizatórios. A aprovação da pena de morte em Nova York, as práticas de intolerância e agressões a árabes e muçulmanos e o maniqueísmo dos governantes americanos vêm estimulando um ambiente de irracionalidade, uma onda de reacionarismo, que reforçam a espiral de violência e os perigos potenciais de guerra generalizada.

Mas, como combater o terrorismo? Se quisermos defender os valores da democracia, da liberdade e da civilidade, devemos preconizar que o combate ao terrorismo deve ocorrer nos parâmetros do Direito Público e do Direito Internacional. Combater o terrorismo é uma tarefa não só do Ocidente e dos países democráticos. Mas os países muçulmanos e árabes, os russos, os chineses, a Índia, todos, sob o patrocínio da ONU, devem combatê-lo por ser um irracionalismo e um anti-humanismo. As bases terroristas devem ser atacadas de forma seletiva, com a destruição de sua estrutura material e financeira. Os países que eventualmente abrigam grupos terroristas devem ser pressionados para que abandonem essas práticas e para que entreguem os responsáveis a fóruns internacionais. Os Estados Unidos e os demais países ricos do Ocidente, por seu turno, devem abandonar as posturas de prepotência e arrogância em relação a outros povos e outras culturas. Não são poucos os especialistas que afirmam que, em parte, o terrorismo é motivado pelo unilateralismo e pela pretensão de um domínio imperial dos Estados Unidos.

Há que se levar em conta também o fato de que, a onda neoliberal enfraqueceu a Lei, o Direito e o poder público em geral. Foi sob essa desordem internacional que vicejou uma aliança entre narcotráfico, crime organizado, lavagem de dinheiro e grupos terroristas. Regulamentar o sistema financeiro e reconstituir a autoridade e a ordem democráticas num ambiente de liberdade e de respeito aos direitos individuais fundamentais é outra tarefa que se impõe na perspectiva da construção de um mundo menos violento, mais pacífico, justo e equânime.

Busca no site:
Receba nossos informativos.
Preencha os dados abaixo:
Nome:
E-mail: