1982-2002

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Alianças de FHC evidenciam podridão da República, diz José G

Amenizado o clima de confronto entre FHC e ACM, irromperam na República novas e velhas denúncias de corrupção, entre elas as que envolvem o dossiê Caribe. Para comentar o que significa realmente a crise na base governista, conversamos com o deputado José Genoíno (PT-SP). Para Genoíno, o condomínio político de FHC, formado na base de muitos interesses, gerou uma briga de esquemas e camarilhas, descambando em denúncias que estão evidenciando a podridão do Executivo e do Legislativo. No entanto, o deputado acredita que já está em construção a reacomodação da aliança, com a busca de um acordo de convergência de interesse - ou seja, não deve haver investigação para valer, pois, afinal, "ninguém é santo e vai sobrar para todo mundo". O governo passaria assim a investir em abafar os escândalos e, ao mesmo tempo, fazer uma operação de maquiagem, para dar continuidade ao seu projeto. O plano de governo anunciado para o biênio 2001/2002 estaria enquadrado nesse esquema, um plano que já teria nascido fraco e com pouca novidade: o governo pegou o orçamento de 2001 e o transformou em programa de governo. Quanto às oposições, Genoíno acredita que devem ir para as ruas para pedir uma CPI, que não será viabilizada se depender somente das articulações no Congresso. O deputado deu ainda sua opinião quanto às intrigas sobre a iminência do parlamentarismo: um balão de ensaio, como vários que o governo lança para ver se pega.

Correio: A base governista está passando por um momento de crise. Nesse sentido, qual é a briga que está em questão? Ela é para valer?

José Genoíno: Eu acho que tem causas políticas mais profundas. Em primeiro lugar, a disputa de 2002, que está já instalada e antecipada dentro da base do governo, e a insegurança quanto à vitória na disputa de 2002. A segunda causa é o modelo de condomínio político que foi formado ao longo dos seis anos, que faliu, esgotou. O tipo de aliança que FHC faz, o tipo de interesse que preside esta aliança, gerou esgotamento. Em terceiro lugar, a profunda crise ética com as denúncias, os interesses contrariados, quer dizer, o condomínio formado na base de muitos interesses gerou disputas que acabaram levando a estas denúncias, que, no meu entender, mostram a podridão da República ao nível dos poderes Executivo e Legislativo.

Correio: Você acredita na ruptura da base governista?

JG: Não acredito na ruptura. Há uma crise, a base não vai ser mais como antes, mas não é ruptura. Eles vão segurar isso por mais dois anos até 2002 e vamos ter crises sucessivas, denúncias, esquemas sendo divulgados, investigados, mas não haverá uma ruptura no sentido de blocos diferentes.

Correio: Na verdade, já está havendo a reacomodação.

JG: Eles estão se reacomodando, vão tentar diminuir o tom, vão tentar fazer um acordo de convergência de interesse. Na verdade, essa é uma briga de camarilhas, de grandes esquemas. Os esquemas estão se chocando e, nessa briga de esquemas, eles não vão querer uma investigação para valer, pois, afinal, nessa briga aí ninguém é santo e vai sobrar para todo mundo.

Correio: Qual a sua expectativa quanto aos próximos movimentos do governo, uma vez que parece já estar havendo a reacomodação na sua base de sustentação? Qual deverá ser a nova investida?

JG: O governo vai investir em abafar os escândalos e, ao mesmo tempo, fazer uma operação de maquiagem, de reciclagem, para dar continuidade ao seu projeto. Vai tentar encontrar bandeiras sociais, mudar um pouco a agenda, o PSDB vai tentar incorporar o discurso ético, para tentar se contrapor à esquerda em 2002.

Correio: O Plano de Governo para o biênio 2001/2002, lançado há alguns dias, vem então como parte desse esquema?

JG: Esse plano já nasceu fraco, foi apresentado com muita pompa, mas não produziu o resultado de marketing que o governo pretendia. Primeiro, o plano foi lançado na semana em que houve a radicalização da disputa entre ACM e FHC. Em segundo lugar, porque esse plano, na verdade, tem pouca novidade. O que o governo fez foi pegar o orçamento de 2001 e transformar o que ele vai liberar, que devia ser obrigação constitucional, em programa de governo. Em terceiro lugar, a crise é mais ampla e profunda, pode ser atenuada com cesta básica, bolsa escola, com políticas urbanas, mas não vai resolver, no meu modo de entender.

Correio: Mediante este quadro, qual deverá ser a estratégia parlamentar e para a campanha eleitoral das oposições? Que nome, a seu ver, representaria esta estratégia?

JG: As oposicões têm que bater duro na denúncia ética, na denúncia desse tipo de briga de interesses. Acho que a oposição tem que ir para a rua pedir uma CPI, defender a investigação. Mas ela não pode ficar só nisso, tem que fazer uma oposição programática a essa tentativa de reciclagem da aliança governista. Ela tem que, ao lado do debate ético, da crise política, fazer uma agenda mais estratégica sobre o modelo de crescimento econômico, sobre as políticas sociais, sobre a gestão do Estado, sobre uma reforma radical e democrática das instituições.

Correio: Há uma intriga de que o governo pretenderia se perpetuar no poder mediante a adoção do parlamentarismo - FHC se elegeria como parlamentar nas eleições de 2002, já de olho no eventual parlamentarismo no pleito seguinte. O que você tem a dizer sobre isto?

JG: Isso aí não vai vingar na minha avaliação, isto é balão de ensaio, como vários que o governo lança para ver se pega. O Congresso e o Executivo não têm o mínimo de credibilidade para fazer uma reforma desse porte. Eles levantam isso, mas não há viabilidade nem consistência. Esse é um tipo de manobra que já nasce desmoralizada. Eu sou parlamentarista, mas defendo que o parlamentarismo seja discutido em outro momento e precedido por ampla reforma das instituições. Quanto a FHC, é muito difícil, ele até gostaria, até alimenta esse ego, mas não existe condição política. Esse governo, com a quantidade de denúncias em que está envolvido, tem que rebolar para limpar a biografia.

Correio: Existe possibilidade de ser aprovada uma CPI mista para investigar a corrupção no governo?

JG: Vai depender da pressão da sociedade. Se depender somente das articulações aqui dentro, acho que ela não sai.

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