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O Fórum Social como alternativa

O Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre foi vendido pela mídia como um anti-Dabos, o Fórum Econômico Mundial realizado nos Alpes suíços que reúne a nata do capitalismo global, representantes de governos, alguns intelectuais e algumas ONGs. O Encontro de Porto Alegre reuniu movimentos sociais de vários segmentos, ONGs, alguns governantes, representantes de partidos políticos, grupos étnicos etc. O Fórum Social não é um anti-Davos porque discute apenas o social sem o econômico. Pelo contrário, as dezenas de oficinas realizadas na PUC de Porto Alegre, pouco focalizadas pela mídia, discutiram essencialmente alternativas práticas para o mundo globalizado a partir de uma visão integradora do social e do econômico.

O Fórum Social é um anti-Davos na perspectiva dos valores e da história. Utilizando uma abordagem simbólica, podemos dizer que o Homem de Davos olha o mundo do alto, sempre pronta para dar o bote certeiro no lugar e no empreendimento onde há lucro a realizar. O Homem de Davos lida com números frios, não tem compaixão, não se preocupa com veleidades como solidariedade, pobreza, justiça e equidade. Somente um ou outro exemplar se digna a jogar algumas migalhas para os homens da planicie, para os homens comuns que trabalham, enfrentam dificuldades, lutam e sofrem. Já a perspectiva das pessoas que se reuniram em Porto Alegre é a de buscar alternativas para o sofrimento e miséria, para o desenvolvimento e o bem estar, a partir de um enfoque humanista. Daí a preocupação com os valores da solidariedade, da justiça e da equidade.

O Fórum Social Mundial, a rigor, foi organizado para buscar alternativas à forma como o mundo se globalizou e aos efeitos trágicos dessa globalização. Em síntese, se é verdade que a globalização é um movimento objetivo, é verdade também que ela é hegemonizada por centros de racionalidade e de poder que se situam nos países ricos, ligados às grandes corporações financeiras e empresariais, que dispõem de capacidade de ação em todo o planeta. As conseqüências dessa hegemonia se traduzem num distanciamento entre países ricos e pobres e numa concentração de riqueza nas mãos das elites econômicas, que não ultrapassam 20% das populações de cada país. Basta dizer que o próprio Banco Mundial reconhece que, hoje, praticamente a metade da humanidade vive com menos de dois dólares por dia.

A perspectiva posta pelo Fórum Social não é a de lutar contra a globalização, mas a de apontar alternativas à globalização perversa. Como implementar essas alternativas? O Encontro de Porto Alegre indicou apenas alguns indícios. Em primeiro lugar é preciso perceber que não há apenas um modelo unívoco em oposição à globalização neoliberal. As sociedades podem e devem se organizar, do ponto de vista social, econômico, político e cultural, de formas diversas. Trata-se de buscar um conjunto de valores e de práticas comuns que coloquem no centro das preocupações o ser humano, sua dignidade, sua liberdade, seus direitos, sua cidadania e seu bem estar. Em suma, é preciso opor à degradação e à miséria da maior parte da humanidade alternativas de organização civilizadas das sociedades. Ao contrário da pretensão universalista do neoliberalismo e da pretensão universalista do socialismo do passado, é preciso construir um novo conceito de humanidade e de civilização que seja ao mesmo tempo pluralista, multicultural e multicivilizacional. O que deve se universalizar são alguns valores, alguns objetivos e alguns direitos comuns a todos os seres humanos. Mas há uma enormidade de outros valores, práticas econômicas e sociais, costumes, culturas etc., que são específicos de cada sociedade.

A implementação de alternativas contrárias à globalização perversa requer, evidentemente, estruturas de poder. O Fórum de Porto Alegre parece ter indicado a necessidade de uma aproximação e de atuações conjuntas entre movimentos sociais, ONGs e partidos políticos de esquerda e centro-esquerda. A pressão social e política daí resultante deve buscar estabelecer outra agenda interna aos países e outra agenda nos fóruns internacionais. Esta aliança político-social precisa também adquirir consistência programática para disputar o poder político, o poder de Estado, principalmente nos países em desenvolvimento.

A própria agenda global só terá uma mudança significativa de eixo no momento em que surgir um bloco articulado de governos de países em desenvolvimento capaz de negociar a redefinição e democratização das estruturas globais de poder localizadas na OMC, na ONU, no FMI, no Banco Mundial etc. Os principais temas de uma nova agenda global podem ser identificados, entre outros pontos, na necessidade de revisão das regras do comércio internacional com o objetivo de estabelecer um maior equilíbrio entre países ricos e pobres, no fim dos subsídios e das barreiras protecionistas dos países ricos, no fim das barreiras étnicas, na renegociação e/ou cancelamento das dívidas externas dos países pobres, num programa mundial de combate à pobreza, na democratização do acesso ao conhecimento e à tecnologia e na adoção de uma política ambiental mundial.

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