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Desenvolvimento e emprego

Hoje são crescentes os questionamentos sobre a capacidade dos Estados nacionais de coordenar e induzir políticas industriais. Dois fatores relacionados teriam diminuído drasticamente essa capacidade. Com a globalização e a desregulamentação econômicas, os Estados nacionais teriam perdido poderes e parcelas de soberania para agências e poderes internacionais e para instituições e poderes internos e regionais. Com isso, a capacidade de fortalecimento da autonomia econômica de um país não estaria mais relacionada ao conjunto de medidas unitárias e nacionais de orientação industrial, mas a um feixe diverso de medidas capazes de coordenar e de induzir o desenvolvimento regional.

A experiência italiana serve de paradigma para sustentar a tese do desenvolvimento local e regional. Mas exemplos da Alemanha, França, Espanha e até mesmo dos Estados Unidos são citados pelos estudiosos como indicadores da potência dessa opção. É preciso notar que o desenvolvimento local e regional não está em contradição com a globalização e com a aposta em uma economia voltada para a exportação. Em primeiro lugar, o desenvolvimento local e regional tem a virtude de fortalecer os mercados internos regionais, de fortalecer os vínculos entre a produção e o sentido de comunidade e de consolidar um maior senso de responsabilidade dos setores produtivos com os problemas sociais e comunitários. Na medida em que se estabelece uma relação de dependência entre produção e comunidade, esta última exerceria uma espécie de regulação social das empresas, requisitando dos empreendedores uma responsabilidade social.

Por outro lado, as empresas locais e regionais, na sua maior parte de pequeno e médio portes, podem desenvolver capacidades de especialização e de inovação tecnológica que as capacitam para disputar mercados externos ou nichos de mercados externos. A capacitação e a inovação tecnológica de pequenas e médias empresas italianas, principalmente da região da Emilia Romagna, fez com que aquele país tivesse neste modelo um forte impulso para as exportações. Aqui no Brasil, o Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, que fabrica e exporta calçados a partir de um sistema local de produção, é citado como o melhor exemplo desse modelo de desenvolvimento regional.

O Estado de São Paulo agrega condições favoráveis para a adoção de um modelo de desenvolvimento local e regional. Nas várias regiões do Estado se articulam cadeias produtivas e vocações econômicas regionais, desenvolvidas de forma "natural", que apresentam os requisitos necessários daquilo que se chama cluster ou sistema local de produção. A viabilização desse modelo de desenvolvimento requer que o Estado exerça uma função muito ativa, principalmente no que diz respeito à coordenação dos processos, ao apoio às pequenas e médias empresas, à formação de consórcios de empresas, à capacitação tecnológica, ao treinamento e qualificação de mão-de-obra e à capacitação para a exportação.

As empresas consorciadas na produção ou na comercialização podem auferir inúmeras vantagens. Podem incrementar ganhos nas políticas de compras, facilidades na obtenção de financiamentos, na modernização da gestão, eficácia na inovação de produtos e racionalidade e ampliação das possibilidades de comercialização interna e externa. Se as cadeias produtivas locais forem organizadas de forma flexível, as pequenas e médias empresas estarão, também, mais capacitadas para enfrentar as crises, já que poderão reorientar sua produção sem grandes dificuldades e sem grandes perdas. Assim, as crises produziriam menor impacto sobre o nível de empregabilidade.

O Estado, as prefeituras e até mesmo o governo federal podem apoiar esse modelo de desenvolvimento local e regional com uma política de compras públicas, orientada para adquirir produtos dessas pequenas e médias empresas consorciadas. Outra virtude desse modelo é que ele desconcentra e interioriza o desenvolvimento e a industrialização, diminuindo os impactos migratórios sobre os grandes centros urbanos. Desta forma, o caos urbano, o esgotamento da capacidade de ampliar a oferta de serviços, a precariedade dos serviços e a degradação urbanística seriam fatores que a médio prazo poderiam adquirir uma tendência reversível nas grandes cidades.

O Estado de São Paulo, por ser o centro dinâmico da economia nacional e por agregar condições de industrialização, capital financeiro e capacidade de pesquisa e de conhecimento, pode se tornar a chave para a implantação de um novo modelo de desenvolvimento. Se nos últimos 15 anos houve uma batalha perdida, esta foi a batalha do desenvolvimento. As conseqüências são o recorde do desemprego e a degradação social. Vencer a guerra do desenvolvimento exige, hoje, inovação de métodos e de lideranças.

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