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Mercado e eleições

Tornou-se rotina diária o chamado "risco-Brasil" freqüentar as páginas dos jornais e o noticiário de rádio e tevê. "Risco-Brasil" é um medidor do grau de confiança que o mercado financeiro adota para avaliar a capacidade ou incapacidade que o País apresenta para honrar suas dívidas. Trata-se também de uma medida que tenta sugerir o grau de risco que um investidor estrangeiro enfrenta ao investir seu dinheiro no Brasil. A variação do "risco-Brasil" produz vários efeitos. Por exemplo: se o "risco-Brasil" cresce, os títulos brasileiros no mercado externo perdem valor, o governo paga juros mais altos para renovar empréstimos e atrair novos, o capital financeiro exige melhor remuneração para investir no Brasil e, de modo geral, os investimentos externos tendem a diminuir.

O próprio comportamento dos agentes econômicos internos é afetado pelo chamado "risco-Brasil". Quanto mais este cresce, menos os setores produtivos tendem a investir, e até mesmo o consumo tende a arrefecer. O "risco-Brasil" provoca até uma gangorra entre juros e crescimento: quanto maior o risco, maior será a taxa de juros e menor tende a ser a perspectiva de crescimento econômico.

Quanto mais um país depende de recursos do mercado financeiro internacional ou do capital especulativo para fechar suas contas externas, mais submetido está ao risco e menos controle tem sobre suas variáveis macroeconômicas. É isto o que está acontecendo com o Brasil neste momento. Nossa economia, por conta do modelo adotado, depende sobremaneira do capital externo. O aumento do risco mergulha um país num "círculo maldoso": quanto mais age para satisfazer as exigências do capital financeiro, mais dependente fica, aumentando sua vulnerabilidade.

Na avaliação das agências de classificação de risco, dois fatores as fazem rebaixar o Brasil na cotação das boas opções para investimentos: os indicadores da economia e o quadro da sucessão presidencial. Quanto ao primeiro item, a queda na produção industrial, a crise argentina e a economia mundial apática são fatores que, somados, sugerem um quadro de incertezas e de pouca confiança de crescimento da economia brasileira. Com isso, diminui o aporte de capitais externos e os agentes econômicos internos moderam ou diminuem seus investimentos. Os indicadores econômicos, de fato, não são os melhores. Mas o Brasil parece estar longe de mergulhar numa crise iminente.

Quanto ao quadro da sucessão presidencial, o crescimento da candidatura Lula, as dificuldades da candidatura Serra de crescer e se isolar no segundo lugar e as denúncias envolvendo as privatizações, fato que pode respingar na candidatura governista, são fatores que fazem as agências visualizarem um quadro de incertezas em relação ao futuro político do Brasil. A especulação em torno do risco político brasileiro, suscitado pelas pesquisas, não tem o menor fundamento. Não tem fundamento porque, antes de tudo, uma eventual vitória de Lula não produzirá elevado grau de incerteza, como as agências financeiras e os bancos querem sugerir. Tanto Lula quanto o PT não são agentes políticos de última hora, não são outsiders, não são desconhecidos e têm um comportamento político definido, atestado por mais de 20 anos de presença permanente na política brasileira.

Partido surgido no processo de redemocratização, o PT tem pautado sua política na luta pela consolidação da democracia e tem agido a partir de uma inserção institucional. Sua atuação nos governos se caracteriza pela combinação da responsabilidade social com a responsabilidade fiscal, mesmo antes da existência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em momento algum a prática do PT sugere a possibilidade de rompimento unilateral de contratos ou a violação de direitos.

O que ocorre é que um eventual governo do PT mudará o modelo econômico vigente. Mudará no sentido de diminuir a dependência externa, aumentado o grau de estabilidade e de certeza na economia, criando uma ambiente de confiança para os investimentos produtivos. A aposta fundamental de um governo do PT será uma aposta nos potenciais de desenvolvimento do País, a partir de um modelo sustentável e distributivo.

As agências que rebaixam a classificação do Brasil por conta do quadro eleitoral agem de forma inaceitável, por duas razões. Por um lado, procuram condicionar as escolhas eleitorais, sugerindo que os candidatos da oposição podem prejudicar a economia e os investimentos. Trata-se de uma atitude antidemocrática, de ingerência indevida no processo político, que procura investir o candidato oficial como candidato oficioso do mercado financeiro.

Por outro lado, o rebaixamento provoca especulação financeira em torno dos papéis brasileiros e do mercado de câmbio. Na especulação, uns poucos espertos ganham. Quem perde é o Brasil e toda a sociedade.

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