1982-2002

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Seqüestros e política

Em anos eleitorais, a taxa de manifestação do padrão conservador de setores da mídia, de alguns formadores de opinião e de parcela da chamada classe política atinge picos de explicitação. Como já se disse inúmeras vezes, a retórica conservadora, a intransigência política, é recorrente na prática de boa parte das nossas elites. Sempre que vêem alguma ameaça à sua pressuposta eterna dominação, investem-se de discursos salvacionistas e apontam o dedo acusador, quando não as armas, contra a oposição, qualificando-a de "anarquista", "subversiva", "incompetente", etc.

Essa elite, desde o período colonial, vem arrastando opositores ao cadafalso, ao esquartejamento, ao fuzilamento, ao desterro, à prisão e à tortura. Mais recentemente, obrigada a submeter-se a parâmetros minimamente democráticos, ela desqualifica a oposição, cobra-lhe soluções que nunca foi capaz de implementar. Sempre que pode, insinua, insidiosamente, que a oposição é portadora de um perigo implícito para a sociedade. Esse perigo se manifestaria em formas desestabilizadoras como a violência, a agressão aos direitos de propriedade ou na diluição de padrões morais.

Em 1989, as hostes colloridas semearam o medo com base numa suposta ameaça de confisco de casas e propriedades que a vitória de Lula representaria. Em 1994 e em 1998, a oposição representaria a instabilidade contra a estabilidade. Ainda em 1989, não hesitaram em usar o seqüestro de Abílio Diniz para auferir dividendos eleitorais. Nos últimos meses, o PT vem sendo alvo de uma campanha sistemática, orquestrada por diversos setores, que advertem a opinião pública sobre os riscos de uma possível vitória eleitoral do partido. Uns desqualificam a capacidade de governar do partido, outros insinuam riscos para a democracia, publicitários chegam a comparar os petistas aos taleban e há aqueles que imputam a um possível governo do PT um potencial de desestabilização social.

O mais grave e inaceitável, porém, são as tentativas de vinculação do PT ao seqüestro do publicitário Washington Olivetto. A tentativa de vinculação é sinuosa: supõe-se que o PT teria prestado solidariedade aos seqüestradores de Abílio Diniz e, por conseqüência, teria legitimado a ação de seqüestro de Olivetto. Além de não ter prestado solidariedade aos seqüestradores, além de ter sido (depois da família Diniz) o maior prejudicado por aquele seqüestro, além de não ter extraditado os seqüestradores por não ser governo, o PT é cobrado como se tivesse alguma culpabilidade no caso. É estranho que aos governantes que extraditaram os seqüestradores não se faça nenhuma cobrança.

Quanto ao seqüestro de Olivetto, a nossa posição é clara: trata-se de uma quadrilha de seqüestradores que precisa pagar pelo seu ato sem nenhum tipo de condescendência. Na tradição dos partidos de massa de esquerda, sempre se condenaram o terrorismo e a violência como métodos políticos. O PT, desde sua origem, vem reiterando no discurso e na prática sua vocação democrática, seu repúdio à violência, sua adesão ao pacifismo e sua convicção de que a alternância no poder é o melhor método para constituir bons governos.

O discurso desqualificador e as acusações infundadas, ao visarem a deslegitimar a oposição e criar resistências eleitorais, pretendem erigir um ambiente em que as escolhas não ocorrem a partir do debate democrático e das opções livres de cada um, mas a partir do condicionamento estabelecido pela mentira e pelo medo. Essa atitude nada tem de democrática. O trágico é que alguns intelectuais, articulistas e políticos a adotam em nome da democracia.

Com os assassinatos de Toninho e de Celso Daniel e com as ameaças a vários vereadores, prefeitos e deputados, o PT vem sendo vítima da violência desenfreada de que é vítima a população indefesa, de que são vítimas os seqüestrados, os assaltados e os assassinados. O PT vem mantendo uma atitude digna ao não fazer exploração eleitoral desses acontecimentos dramáticos.

Mesmo na condição de agredido, o partido e até mesmo os seus membros que pagaram com a vida o fato de viverem nessas circunstâncias são alvos de insinuações inaceitáveis e revoltantes por parte dos pregadores do obscurantismo. Pregadores que estão na política, nos governos, nas polícias e na mídia. Pregadores que parecem determinados a transformar as vítimas em culpados.

O espírito democrático e a consciência cívica da sociedade brasileira evoluíram de tal forma a ponto de não permitir que essas práticas insidiosas encontrem abrigo na maioria da população. Mas, para que a democracia, a noção de civilização e o desejo de uma vida ética façam algum sentido num país que quer encontrar um caminho para a justiça e para o bem estar, é necessário que essas práticas sejam combatidas como nefastas e prejudiciais a esses objetivos comuns. Não podemos permitir aos porta-vozes daqueles que vêm mantendo este Brasil condenado às misérias, às violências e às desumananidades da incivilidade a condição moral de acusar os que lutam por mudanças.

O Brasil precisa ter um futuro melhor. Mas para isso terá de recusar a herança do obscurantismo e do continuísmo que o condena.

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