1982-2002

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A complexidade do desemprego

O desemprego é um dos mais complexos problemas das sociedades contemporâneas. Com efeito, a década de 80 marcou o surgimento da concomitância, principalmente nos países desenvolvidos, entre o crescimento econômico e o desemprego. Até então, crescimento e aumento de emprego andavam juntos. Ressalve-se que alguns analistas chegam a questionar o crescimento da década de 80 pelo fato de ocorrer em maior volume no setor financeiro, mas ele não deixou de ser real. Os anos 80 marcaram também a afirmação do paradigma da competitividade, o que implica a busca de uma produção cada vez maior com menos trabalhadores. O desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas à produção vem sendo decisivo para que isto aconteça.

No final do século XIX e ao longo do século XX o pleno emprego fazia parte dos programas políticos e sociais dos governos e dos partidos. Crescimento econômico e emprego representavam uma associação que, por si só, era um indicativo de solução de problemas sociais. Os indícios de dissociação entre crescimento e emprego que se manifestam hoje, evidenciam que a distribuição dos empregos existentes se torna um problema social e político cada vez mais complexo.

A crise de emprego do nosso tempo vem proporcionando, também, o questinamento de um dos valores fundamentais das sociedades modernas. Estas sociedades estão assentadas sobre a ética do trabalho, são sociedades do trabalho. O trabalho representa a independência individual, as rendas das pessoas e o seu status social. Mas a carência de emprego e as estafantes jornadas de trabalho com todas as suas decorrências psicológicas e sociais, são fatores que instigam o questinamento do valor-trabalho. O tempo livre e o lazer são valores que adquirem uma significação cada vez maior. Basta constatar, empiricamente, o crescimento da indústria do lazer para confirmar esta afirmação. Assim, as sociedades contemporâneas se tornam paradoxais na medida em que a ética do trabalho, que apesar de tudo se mantém firme, é contrarrestada por uma ética hedonista emergente.

De qualquer forma, ser desempregado continua representando uma situação difícil e a destruição da auto-estima em qualquer lugar. Ser desempregado na Europa, onde há uma seguridade social efetiva, é uma coisa bem diferente de ser desempregado no Brasil e na América Latina, onde significa mergulhar no desespero da exclusão social. E se é verdade que produzir mais com menos trabalho representa uma história de sucesso, — representa um equilíbrio entre trabalho heterônomo e atividade autonoma com a viabilização de oportunidades novas e deslumbrantes para muitos indivíduos — o não enfrentamento das decorrências sociais desse processo pode provocar a tragédia na vida de milhões de pessoas. O fato é que para além das novas oportunidades, há uma escacez real de trabalho. Tanto na indústria manufaturada como na agricultura afirama-se a tendência de crescimento da produtividade com a estagnação ou declínio do emprego. No setor terciário tradicional, os processos de racionalização e automação também podem provocar estagnação e declínio no número de postos de trabalho. A automação eletrônica já está reduzindo o número de postos em escritórios, bancos etc.. Somente a criação de novas redes de serviços pode gerar novos empregos nessa área.

No Brasil hoje o desemprego é um tema obrigatório na agenda de políticos, empresários, sindicalistas e cidadãos. Há, de fato, um desemprego conjuntural provocado pelas restrições governamentais ao crescimento econômico. Mas há também um nítido desemprego que vem sendo provocado por conta do ajuste estrutural do setor produtivo e que será incrementado pelo ajuste do setor público. A indústria automobilística, por exemplo, aumentou nos últimos anos em 70% sua produção e em torno de 5% o emprego. Dados divulgados pela imprensa indicam que até o ano 2000, a produção será aumentada com a redução drástica do emprego. As últimas amostras divulgadas sobre a tendência de demissões na indústria e admissões na área dos serviços sinalizam um panorama de dúvidas. Neste último setor, a velocidade das adminssões teria diminuído e viria acompanhada com demissões.

Todo este quadro indica que a cláusula social deve fazer parte da agenda política de forma permantente. O processo de globalização, que já é uma realidade, extrapola a discussão da cláusula social para uma dimensão suprancional. O discurso anti-especulativo dos governates é absolutamente incapaz de dar conta da crise social e do problema do desemprego. O capital, pela sua própria natureaza, procurará expandir-se onde tem maiores chances de lucro. Para reduzir o capital especulativo a uma dimensão marginal é preciso que os governates e as agências internacionais apresentem alternativas atrativas de investimentos produtivos. A desfinaceirização só virá no momento em que o investimento produtivo tornar-se mais rentável do que o investimento especulativo. Somente essa mudança de perspectiva poderá proporcionar um aumento global de emprego. As medidas tradicionais de aumento do nível de atividade para gerar novos empregos podem continuar sendo empregadas desde que se tenha consciência de que são insuficientes. Outras saídas criativas como, por exemplo, a adoção da semana flexível de trabalho também são válidas. Do ponto de vista interno, se é verdade que as políticas sociais compensatórias são indispensáveis, o governo não pode limitar-se a elas e deve incluir a cláusula social e o problema do desemprego na agenda da modernização. Aliás, o PT, corretamente, definiu a crise social como o ponto principal de sua agenda.

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