Artigos | Projetos | Docs. Partidários
Versão para impressão
| Indicar para amigo 
Não seria faltar com a verdade afirmar que o PT não conseguiu realizar todo o potencial de que dispunha nas eleições municipais. Mas dizer que o partido saiu derrotado é falsificar a análise. Afinal de contas, o PT foi o partido mais votado no primeiro turno nas capitais e nas principais cidades do país; ficou em segundo lugar em número de votos nas 31 cidades que tiveram segundo turno e, em termos de conquista de prefeituras, cresceu quase 130%. Além dos 110 prefeitos eleitos, o PT ocupa mais 32 vice-prefeituras o que mostra que o partido vem aprendendo a fazer alianças.
Os números das eleições revelam que o PT tem forte representação política e social em todo o país, efetivando-se como partido nacional. Foi o partido que polarizou o segundo turno das eleições e as experiências administrativas que desenvolveu se tornaram paradigmas dos debates eleitorais. Vários prefeitos eleitos de outros partidos, de esquerda, de centro e de direita, declararam que vão adotar algumas das experiências desenvolvidas por administrações petistas. Isto comprova que o PT vem introduzindo uma competitividade positiva na arena política do país, o que serve para impulsionar a modernização das nossas relações e costumes políticos.
O imenso avanço político e eleitoral do PT não nos exime de apontar erros e insucessos, principalmente no segundo turno e no estado de São Paulo. As eleições municipais deste ano revelaram complexidades e dificuldades das quais o PT não tinha consciência. Uma tática unívoca, por exemplo, não é capaz de responder às diferenças e especificidades locais e regionais. Em determinados lugares o PT disputou contra a direita e o centro e em outros, contra a esquerda. Determinadas disputas como as que ocorreram em Belo Horizonte e Maceió, contra candidatos do PSB, mostram que o PT deve ter um nível de articulação mais afinado com os seus possíveis aliados de esquerda e centro-esquerda. Ou seja, nós somos bastante exigentes em cobrar alianças e apoios, mas não aprendemos ainda a fazer as necessárias concessões aos nossos aliados. Precisamos compreender que alianças se fazem no primeiro turno. O segundo turno envolve meros apoios — muitos dos quais podem ser indesejados mas não evitados — que não implicam acordos ou compromissos. Em relação a alianças ainda, estas eleições deixaram claro que o PSDB preferiu definitivamente se aliar com o campo do centro e da direita. Para o PT, em relação à base governista, resta apenas a possibilidade de fazer alianças com algumas franjas do PSDB, que permanecem fiéis à social-democracia, e com setores progressistas do PMDB.
A sofisticação crescente das disputas eleitorais, com o uso cada vez mais intenso de técnicas mercadológicas e de marketing, indicam que nós não soubemos ainda combinar de forma adequada a nossa força militante e programática com esses novos ingredientes tecnológicos que intervêm nos embates políticos. A realidade política do país está a nos cobrar um maior grau de profissionalismo, de organização e de politização. Ao mesmo tempo em que lutamos para garantir os espaços democráticos de participação do cidadão mais comum, não podemos prescindir dos meios científicos e tecnológicos que estão disponíveis ao uso político.
Outra frente de equívocos que devemos superar, e que causou prejuízos eleitorais evidentes principalmente no estado de São Paulo, diz respeito à nossa unidade ou disputas internas. O PT não é um partido monolítico e nem deve ser. A pluralidade e a diversidade internas devem ser respeitadas desde que elas sejam expressão de uma prática democrática e fraterna. O que ocorreu e vem ocorrendo em determinadas cidades, destacando-se Diadema, Santos e a situação envolvendo o governo do Espírito Santo, expressam situações que nada tem a ver com pluralismo e democracia. São lutas fraticidas e sectárias que desagregam o partido e causam prejuízo público à sua imagem. Nem a direção e nem a militância podem tolerar esse tipo de situação. Além de regras claras de disputa e de uma direção firme, o PT precisa de um projeto político, de um conjunto de idéias, que unifique a direção e a base e que sirva de parâmetro ao eleitorado do partido.
Do ponto de vista eleitoral, o PT tem que deixar de ser uma grande minoria. As transformações políticas e sociais numa sociedade plural e complexa como a brasileira exigem que se construam maiorias capazes de operá-las. Nenhum partido transformará a sociedade ou governará de forma eficaz se não for capaz de aglutinar um campo de forças majoritário, mesmo que seja para um determinado período. É até antidemocrático querer impor diretrizes que não contam com o apoio de uma maioria política ou social. A governabilidade eficaz, direito dos cidadãos, requer alianças políticas e até mesmo capacidade de negociação com os adversários políticos. Em suma, sem ser condescendente com os seus erros, o PT precisa fazer uma avaliação que aponte para o futuro, para o desenvolvimento do seu potencial demonstrado nessas eleições. O muro das lamentações e a mera busca de culpados são atitudes apropriadas para aqueles que não querem assumir responsabilidades com a sociedade ou para aqueles que não as assumiram durante a campanha.