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Nem Maluf nem FHC

Apesar do bom desempenho dos partidos de esquerda nas eleições municipais deste ano alguns dos seus setores parecem que vivem uma certa perplexidade. Uns sugerem uma aliança com o PSDB em 1998 para enfrentar o perigoso crescimento da direita. Outros, alimentando a estapafúrdia lógica de que o PSDB e Fernando Henrique Cardoso "são os inimigos principais", pensam até que é preferível Paulo Maluf e o PPB à atual aliança governista. As duas posições estão profundamente equivocadas. O PSDB e FHC optaram definitivamente por uma aliança de centro com um enfoque programático neoliberal e descartam um movimento à esquerda.

Para o Brasil, por outro lado, não há nada mais pernicioso do que a volta de uma política conservadora de direita, representada hoje por Paulo Maluf. A administração malufista da prefeitura de São Paulo confirma esta afirmação. Foi uma gestão que privilegiou as elites da cidade, que fez uma maquiagem inconseqüente de políticas sociais com altos custos e que quebrou a capacidade de investimentos da Prefeitura. Uma política dessas, aplicada à esfera federal, além de proporcionar uma volta à inflação pela gestão irresponsável das finanças públicas, geraria um alto grau de instabilidade política e social.

A conjuntura pós-eleitoral se colocou de tal forma que parece que há apenas duas alternativas para 98: ou a reeleição de FHC ou Maluf. A esquerda precisa sair deste sanduíche e apresentar uma posição própria e independente de FCH e do malufismo. Já nas eleições se delinearam três campos políticos: um de direita outro de centro e o terceiro de esquerda. É fundamental que a alternativa de esquerda se explicite tanto em relação aos pontos que estão sendo disputados na conjuntura como em relação a um projeto para 98. Os partidos de esquerda e centro-esquerda não podem ficar subordinados às lógicas políticas do centro ou da direita.

Do ponto de vista do projeto para 98, a esquerda precisa definir um programa centrado em três pontos básicos. Primeiro, aprimoramento de uma plataforma de reformas constitucionais democráticas e da reforma política. Segundo, definição de uma proposta de financiamento das políticas públicas que não se limite ao assistencialismo, mas que tenha como objetivo fazer uma revolução integradora das parcelas marginalizadas da sociedade. Terceiro, definição de um programa econômico que tenha como eixos a estabilidade, o crescimento, a geração de empregos e a distribuição de renda. Os impasses que os governadores e prefeitos de esquerda enfrentam em suas gestões são provas concretas de que é preciso reformar o Estado para recuperar sua capacidade de investimento em políticas sociais e para cumprir suas funções básicas nas áreas de segurança, infra-estrutura e serviços públicos. Diante da complexidade dos desafios políticos que estão postos é essencial que a esquerda tenha propostas para disputar os rumos das reformas. Uma oposição sem propostas gera a confusão e a diluição.

A afirmação de uma alternativa de esquerda implica também uma postura autônoma nas questões de disputa conjuntural. Acordos pontuais podem ser feitos tanto com a base governista como com os conservadores, desde que a nossa política seja legitimada num programa de esquerda e na garantia da afirmação de nossa autonomia. Por exemplo, podemos aprovar, com os governistas, o Imposto Territorial Rural (ITR) sem nos comprometermos com as eventuais barganhas pró-reeleição que possam estar em jogo nessa votação. Podemos andar lado a lado com o malufismo contra a reeleição, sem fazer qualquer aliança e afirmando que temos uma alternativa radicalmente diferente da direita para governar o país. Na disputa da presidência da Câmara os partidos de esquerda e centro-esquerda devem apresentar uma candidatura e uma proposta própria enfrentando, tanto os governistas que liquidaram a autonomia do Congresso, como o candidato do PPB que serve apenas às pretensões de Maluf rumo ao Planalto.

As eleições municipais mostraram que existem condições favoráveis para construir uma aliança de esquerda e centro-esquerda. Para isso, os partidos e setores que compõem esse campo precisam se articular mais definindo pontos comuns e evitando uma fragmentação em torno de uma disputa inócua por espaço político. Não trabalhar por esta alternativa significa jogar fora um acúmulo comum desses paridos que vem sendo construído desde o processo de redemocratização. Parte desse capital político não pode migrar para a base governista, porque ela não representa nenhum compromisso sério com as reformas sociais e democráticas de que o Brasil precisa. Não agregar forças agora representa também abrir espaço para o crescimento da direita conservadora.

O pior cenário para a esquerda neste momento é ficar presa no sanduíche que está sendo proposto ou aparecer como defensora do status quo. A nossa autonomia e a nossa fisionomia próprias só serão garantidas se formos capazes de definir conteúdos claros para as disputas políticas e de apresentar um projeto consistente para governar o país. A largada para 98 já foi dada. A política não transige com a inércia e com a falta de propostas e de lideranças.

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